Aplicativo voltado para gamers é usado por extremistas para recrutar adeptos e assediar pessoas
Recentemente, o aplicativo de computador Discord saiu das páginas de tecnologia para virar notícia de polícia. Um jovem já foi preso, suspeito de induzir adolescentes a atos de extrema violência. Na última 5ª (6.jul), em audiência de custódia, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) decidiu manter a prisão temporária de Pedro Ricardo Conceição da Rocha, de 19 anos.
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Ele teria criado um grupo no aplicativo e atraído meninas de até 16 anos, que eram ameaçadas a práticas de tortura, estupro virtual e comportamento vexatório. Além disso, os investigados também usavam o Discord para cometer atos de violência contra animais, além de divulgar pedofilia, zoofilia e fazer apologia ao racismo e nazismo.
A polícia de São Paulo também prendeu outros quatro suspeitos. Em nota, o Discord informou que, nos últimos seis meses, removeu 98% das comunidades que exibiram material de abuso de crianças no Brasil.
Segundo especialistas, a estrutura do aplicativo ajuda os criminosos a praticarem os crimes.
O que é o Discord?
Criado há quase mais de oito anos, o Discord tem ficado cada vez mais popular entre os gamers. Ele oferece chat de voz, texto e vídeo e foi criado especificamente ajudar os jogadores a se comunicarem durante o jogo.
A diferença para os bate-papos dos próprios games é que a plataforma pode manter os conteúdos mesmo depois que o jogo é fechado.
A plataforma tem servidores em vários países, o que dificulta a identificação dos usuários. Na última avaliação de mercado, o Discord foi precificado em mais de US$ 15 bilhões de dólares.
Como funciona?
Pode-se usar o aplicativo com texto, vídeo e voz ao vivo ou não. O aplicativo evoluiu para também ser um fórum de bate-papo. Grupos de diversos temas são criados e usuários podem participar anonimamente na conversa. As comunidades do aplicativo são chamadas de Servidores.
Por que foi usado pelos criminosos?
O uso do aplicativo por criminosos não é uma novidade e tem sido uma prática cada vez mais recorrente. Uma pesquisa da NYU Stern Center for Business and Human Rights mostra que 51% dos jogadores de games online estão expostos ao extremismo nas comunidades. De acordo com o estudo, o Discord contribui para isso ao abrigar canais com violência explícita em servidores privados.
Em abril de 2022, um aluno do Instituto Federal do Mato Grosso do Sul foi indicado pelo crime de injúria racial. No aplicativo, ele publicou mensagens de apologia ao nazismo.
Gerente da organização Safernet, Guilherme Alves explica que mais recentemente o aplicativo tem abrigado comunidades com conteúdos de extrema violência. “A gente está falando de pessoas que podem estar não só agredindo outras ou compartilhando conteúdos violentos, mas também sendo vítimas de algum tipo de violência dentro ou fora dos espaços, e também pessoas que também estão testemunhando isso”, explica.
Como se proteger?
Guilherme lembra que todas as plataformas e redes sociais requerem cuidado para manter a segurança. No caso do Discord, “é importante entender qual a natureza daquele servidor, quem são as pessoas que fazem a moderação interna das mensagens, se existem regras do que pode ou não pode ser veiculado ali dentro, e compreender e acessar as configurações de segurança que podem ser ativadas, limitar quem pode acessar a sua foto, seu nome, outras informações”, ressalta.
Por conta do aumento da violência no aplicativo, o gerente da Safernet defende que a plataforma seja mais proativa para conter a publicação de conteúdos criminosos.
“Agir pela moderação de conteúdo proativa, principalmente pensando na proteção de crianças e adolescentes. Também é preciso cooperação mais estreita com as autoridades dos países quando há investigação que pode identificar que um servidor do Discord esteja sendo palco de conteúdos criminosos”, avalia.