Casos aumentaram 43,2% nos primeiros dez meses de 2023 na comparação com o mesmo período do ano passado
Um levantamento feito pelo SBT junto ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania mostra que as denúncias de violência contra pessoas em situação de rua aumentaram 43,2% nos dez primeiros meses de 2023 em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram 1581, contra 1104.
Há cerca de 236 mil pessoas vivendo nas ruas das cidades brasileiras. Desse total, 62% estão na região Sudeste. Mas é o Distrito Federal a unidade federativa com maior proporção: três entre mil pessoas não têm onde morar.
O perfil dessa população é majoritariamente composto por homens (87%), adultos (55%) e negros (68%). Pessoas pardas (55%) e pretas (14%) somam 69% das vítimas das agressões, e a faixa etária mais atingida é de 20 a 29 anos (26%), seguida dos 30 a 39 anos (25%). Quanto ao tipo de violência, 88% das notificações envolviam violência física, sendo a psicológica a segunda mais frequente (14%).
Fabiano Kikulski viveu um ano nas ruas e foi uma das vítimas de agressões. “Nas ruas as pessoas te maltratam muito, entende? Com palavras. Muitas das vezes mandam bater em você”, conta o morador de Barueri, na Grande São Paulo, e que hoje trabalha como pedreiro. Às vezes a gente não está fazendo nada. Apanhar às vezes por causa de um prato de comida, que você está mexendo ali, uma coisa que já vai pro lixo, e aí eles mandam te bater até não poder mais.”
Para Laura Salatiano, coordenadora pedagógica da Clínica de Direitos Humanos Luís Gama, um formado a partir da Faculdade de Direito da USP e que acompanha moradores de rua, a violência contra essa população é fruto de um preconceito de décadas. “As pessoas em situação de rua são associadas ao uso de drogas, à criminalidade na região, mas não são fatos que se confirmam. Justamente porque elas fazem uso daquele espaço como moradia, é muito difícil que elas cometam crimes e delitos ali”, explica.
Edmur das Dores é catador de recicláveis e vive há 30 anos vagando pelas ruas da capital paulista. Dependente químico, diz que em quatro oportunidades tentaram matá-lo – numa delas, atearam fogo nele. Ele vive em estado de atenção permanente, e diz que conta com a ajuda divina. “Oro pra Deus. Sou cristão. Tenho fé. Está na mão dele”.
Qualquer pessoa pode denunciar violações de dirietos humanos, especialmente as que atingem populações em vulnerabilidade social, através do Disque 100.
SBT News