Por: João Victor Constantino| Para quem acompanha o futebol amador da cidade de Uberlândia, nota-se, que o nível das equipes é muito alto e ainda contam com um grande número de ex-jogadores profissionais. Por vezes, ouve-se pelos alambrados, grades e calçadas da cidade, aquela frase: “se esse jogador tivesse oportunidade em um time profissional…”, mas será que, todos estão preparados para receber esta oportunidade?

Gabriel Mendes Alves viveu o sonho de muitos meninos e meninas espalhados por todo o Brasil. Considerado o melhor jogador amador de São Paulo, nunca fez nenhuma categoria de base e conseguiu sua primeira chance no profissional aos 21 anos pelo Barcelona-SP, disputando a quarta divisão do Campeonato Paulista. Mendes vivia de idas e vindas no futebol de alto rendimento, passando também por Guarulhos, Atlético-PB, Nacional-SP, Caucaia e União Suzano.

Entretanto, em 2024, o Santa Catarina contatou Mendes para a disputa da Série B catarinense. Foi eleito o melhor meia da competição e ajudou o time a ser vice-campeão, garantindo o acesso inédito à elite estadual. Já em 2025, o Santa Catarina foi semifinalista da primeira divisão catarinense, com a segunda melhor campanha geral, mas acabou eliminado nos pênaltis para o campeão Avaí.

Pouco antes do início do Campeonato Brasileiro da Série B, o mesmo Avaí decidiu apostar no “01 da várzea”. Mendes não atendeu às expectativas da diretoria do Leão da Ressacada, que contava com o jogador para a disputa do nacional. Ele optou por rescindir o contrato com o desejo de se aposentar do futebol profissional aos 30 anos. Foram três meses disputando a Série B, 9 jogos, nenhum gol e nenhuma assistência.

O caso de Mendes é apenas um reflexo de uma realidade que, infelizmente, é cruel: o futebol não é para todos. Treinamentos diários, preparação física, concentração, acompanhados de um desgaste físico e mental elevado. Esta é a rotina por trás dos salários extratosféricos do esporte. Apesar do talento que ronda os campos de terra, as ruas e as quadras do nosso país, um abismo separa o amador do profissional. Ser agraciado por um dom não é garantia de sucesso — este se constrói com trabalho duro, insistência, disciplina e força de vontade. Isso serve para qualquer profissão.

Em entrevista, o “01 da várzea” justificou sua saída do Avaí:

“Eu vou para casa cuidar da minha mente, cuidar de mim, tentar voltar a ser feliz, ser eu, o Mendes. Eu não iria me aposentar do futebol. Vou voltar a bater minha bola na várzea e depois eu vejo o que faço. Quero recuperar minha alegria.”

Como afirma o próprio atleta, seu lugar era a várzea, onde seu salário era até maior do que nos clubes oficiais. Mas, mesmo com um retorno financeiro muito maior no time de Florianópolis, Mendes desistiu. O Avaí disse, em nota, que o atleta nunca deixou de mostrar profissionalismo e dedicação. A escolha do “01” gira em torno do compromisso, que em um clube profissional é fundamento tão básico quanto o passe: a pressão de uma torcida tão numerosa quanto uma cidade, grandes viagens, grandes competições e grandes responsabilidades — o que não existe no futebol amador.

Gabriel tomou a decisão correta, pois de nada adianta viver infeliz em um sonho que não é mais o seu. Cuidar da saúde mental é essencial; todos devem buscar aquilo que acreditam ser o melhor para si. Para o “01”, foi largar o esporte de elite. Ele não foi uma joia que o futebol desfez, mas um talento que se desencantou do futebol.