Os efeitos da Operação Cadeia Velha, deflagrada hoje (14) pela Polícia Federal (PF), repercutiram na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), mas os parlamentares evitaram críticas diretas aos colegas investigados. Um dos alvos da operação foi o presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani (PMDB), levado coercitivamente para depor na PF e que teve um de seus filhos, Felipe Picciani, preso temporariamente.
Com a ausência de Picciani e de mais dois deputados do PMDB levados coercitivamente pela PF para depor, Paulo Melo e Edson Albertassi, que pertencem à cúpula da base governista na Alerj, aliados do governador Luiz Fernando Pezão evitaram o plenário da assembleia na tarde desta terça-feira.
Apenas deputados de oposição fizeram discursando e, mesmo entre eles, o tom das falas foi de deixar para a Justiça as investigações, sem propor ações do próprio Legislativo contra os três deputados investigados.
“Mais uma vez é uma questão relacionada aos transportes. Nós temos brigado para reduzir o poder da Fetranspor [Federação das Empresas de Transporte do Rio de Janeiro]. Mas acho que nenhum de nós está acima da lei. As denúncias têm que ser apuradas e, se for o caso, é a Justiça quem vai julgar. Eu não adoto nenhuma postura de pré-julgar ninguém”, disse o deputado Gilberto Palmares (PT).
Para o deputado Carlos Minc (sem partido), a denúncia é gravíssima e deve ser apurada. “Temos que aguardar para saber quais são os elementos do processo e de que forma a gente vai ter que se pronunciar. Não se pode fechar os olhos para isso. A gravidade é suprema”, disse.
O líder do PSOL, deputado Marcelo Freixo, uma das principais vozes da oposição, considerou de grande gravidade a operação, mas evitou criticar diretamente os deputados envolvidos. “É muito grave a Casa ser palco da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Faz muitos anos que esse modus operandi do PMDB mistura polícia e política. O Executivo, o Legislativo e o Tribunal de Contas são todos sócios de um mesmo negócio envolvendo alguns empresários e tem a ver com a crise moral que estamos vendo aqui. Não dá para fingir que não tem nada acontecendo”, disse Freixo.
Um dos discursos mais fortes foi o do deputado Dr. Julianelli (Rede), que pediu esclarecimentos urgentes dos deputados envolvidos. “Com certeza isso traz mais descrédito para a Casa. A condução do presidente, do líder do governo e de outro deputado demonstra que esta Casa está falhando na sua missão de proteger, fiscalizar e ir de encontro aos interesses da população. É necessário – e não quero fazer nenhum juízo precipitado – que o presidente e os demais deputados envolvidos, nesta tribuna aqui, expliquem claramente o caso”, disse Julianelli.
O líder do PSDB, deputado Luiz Paulo, considerou que a Alerj foi atingida pela operação. “A Casa se sente atingida, afinal estão sendo investigados três parlamentares proeminentes. Por isso não é possível fingir que nada está acontecendo. Mas ao mesmo tempo, ninguém está acima da lei. O Ministério Público deve investigar e dar a cada um o direito de defesa. Se inocente, ótimo. Se culpado, cada um é responsável pelos atos praticados”.
Os investigados, com prisão preventiva decretada, são donos de empresas de ônibus: Lélis Teixeira, Jacob Barata Filho, dono de 28 empresas de ônibus no Rio, e José Carlos Lavouras, foragido, investigados na Operação Ponto Final, além de Jorge Luiz Ribeiro, Carlos Cesar da Costa Pereira e Andreia Cardoso do Nascimento.
Já Felipe Picciani, Ana Claudia Jaccoub, Marcia Rocha Schalcher de Almeida e Fabio Cardoso do Nascimento tiveram a prisão temporária decretada.
Defesa
Mais cedo, em nota, a Alerj disse repudiar as acusações de procuradores do Ministério Público Federal de que a Casa teria beneficiado empresários do setor de transportes.
“O Parlamento fluminense não atua em função de interesses espúrios de quem quer que seja, até porque somos uma Casa plural, submetida à permanente vigilância e escrutínio públicos”, afirma o comunicado.
Agência Brasil