Um dia depois de acionar a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) para pedir pela reversão dos pontos da segunda partida da semifinal da Copa Libertadores, contra o River Plate, em função do descumprimento do regulamento da competição por parte do técnico da equipe argentina, Marcelo Gallardo, a diretoria do Grêmio revelou nesta quinta-feira que a entidade vai julgar o caso neste sábado.

O clube gaúcho ainda acusou o clube argentino de ser conivente com a ação irregular do treinador, que estava suspenso, mas viu o jogo de terça-feira, na arena gremista, de um camarote usando um rádio para se comunicar com o auxiliar técnico que dirigia o time dentro do campo. Para completar, ele também desrespeitou o regulamento da competição ao ir até os vestiários da equipe argentina no intervalo da partida que terminou com vitória dos visitantes por 2 a 1.

O presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, acusou o River e Gallardo de debocharem da Conmebol e enfatizou: “O que está em jogo aqui são valores muito mais profundos que o resultado de campo. O que está em jogo é a integridade do futebol, a moralidade do futebol. É não ser esperto, não ser malandro, não meter um boné na cabeça para não ser reconhecido e transgredir. O que está em jogo é a honra do campeonato, da própria Conmebol”.

O dirigente afirmou que o “River tinha time para ganhar” do Grêmio sem fazer uso desta conduta irregular e não pode ter a sua passagem a final considerada legítima pela forma como o seu treinador agiu. Bolzan ainda destacou que o próprio comandante argentino admitiu que infringiu as regras, o que é um sinal claro de que o clube de Buenos Aires permitiu que o mesmo cometesse as irregularidades.

“O que aconteceu aqui foi a infringência do regulamento do Código Disciplinar da Conmebol. O técnico do River estava suspenso e, ao estar suspenso, participou da partida de maneira direta. Com a conivência, com a concordância, planejamento, com tudo patrocinado pelo River Plate. Nós que conhecemos futebol sabemos perfeitamente que quem se comunica, quem tem um aparelho de comunicação, que tem rádio, fones de ouvidos, isso é absolutamente irregular estando suspenso”, afirmou o mandatário gremista, para em seguida revelar que parte da conduta irregular de Gallardo foi flagrada pelas câmeras do sistema de segurança da arena gremista.

“Na nossa reclamação nós temos todo o trajeto feito pelo treinador visualizado pelas câmeras internas da Arena, desde a saída do seu camarote até a chegada do vestiário no intervalo. E também ali se viu, o delegado do jogo foi chamado a partir da denúncia, que o treinador entrou no vestiário e o delegado foi impedido pelos seguranças do River Plate, e ao ser impedido não conseguiu entrar, saiu e voltou para o seu local. Fica completamente comprovada, além de toda a situação do aparato montado, que coloca o River Plate como agente importante, que patrocinou tudo isso para o seu treinador, o seu treinador também infringiu a regra”, reforçou Bolzan.

Já ao comentar especificamente sobre a conduta de Gallardo, o presidente disse ter a convicção de que não se tratou de uma “decisão solitária” do comandante e que, por isso, não apenas o técnico precisa ser punido, mas também o River Plate por permitir que o treinador atuasse de forma ativa na partida, desrespeitando a sua suspensão.

“Existe uma situação que pode vir ao debate, que a decisão foi solitária, única do treinador, e ficar a responsabilização em cima do treinador. Isso não é verdadeiro. De outra parte, a infringência da norma e a confissão do treinador. Que diz que fez, que não se arrepende, que faria de novo, e que era importante a sua participação para que todos se sentissem mais seguros e orientados para fazer o segundo tempo”, afirmou.

VAR EM SEGUNDO PLANO – Bolzan ainda esclareceu que a reclamação gremista enviada à Conmebol que o clube não está contestando o resultado da partida de terça-feira, apesar do fato de que o primeiro gol do River, marcado após um toque da bola no braço do atacante Borre, não foi impugnado com o auxílio da arbitragem de vídeo (VAR), que sequer foi acionada para revisão do lance no qual o time argentino empatou o duelo.

“Em primeiro lugar, quero dizer que o que nós estamos fazendo não tem rigorosamente nada a ver com a questão do VAR. Nós fomos prejudicados no jogo, fomos prejudicados na partida, tivemos um gol que foi absolutamente nulo, um gol que não deveria ter sido confirmado, e não tivemos ali nem tampouco a visão do VAR, nem tampouco da reavaliação do lance, se o foi feito. Mas esse não é o nosso reclamo. Essa não é a nossa posição. No campo, o jogo de 180 minutos terminou 2 a 2 e os critérios de gols qualificados levaram para uma vantagem do River. Esses assuntos não são objetos da nossa reclamação”, esclareceu.

CONFIANÇA PARA O JULGAMENTO

Ao lado do CEO do Grêmio, Carlos Amodeo, do diretor jurídico do clube, Nestor Hein, do diretor adjunto jurídico Leonardo Lamachia e do executivo de futebol André Zanotta, Bolzan informou até o horário do julgamento deste sábado e exibiu otimismo ao projetar a chance de o River Plate ser punido e ficar fora das finais contra o Boca Juniors, confirmadas para ocorrer nos próximos dias 10 e 24 de novembro.

“O Grêmio entende que tem uma excelente causa, que tem fundamento, que tem razão em tudo o que postula, e está confiante no aguardo da decisão do Tribunal de Penas da Conmebol, que está marcado para sábado, por volta das 13h30. Já fomos notificados ontem (quarta-feira) do julgamento, e possivelmente se julgue em dois expedientes, um de ofício, que foi a própria Conmebol que instaurou para examinar essas situações, que deve ter sido feito em cima do relatório do delegado e da súmula do jogo, e todo esse levantamento que nós fizemos por conta da nossa reclamação, de todas as provas que juntamos. Vamos combinar: não há mais ambiente de esperteza, de malandragem, de tudo vale para ser campeão, que os fins justificam os meios, que as coisas vão se reger”, afirmou o presidente gremista.

“O Grêmio vai combater isso e esperamos que seja provido nosso recurso para ter como consequência a reversão do escore para 3 a 0. Há precedentes de sobra para tudo isso, do Santos, da Chapecoense, em outras confederações, outras federações. Esperamos que seja feita justiça”, completou o mandatário tricolor.

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