Polícia Civil alerta a importância do registro do desaparecimento nas primeiras 24 horas

O filho adolescente de A.Q.J, 51 anos, saiu de casa sem deixar notícias, em agosto de 2016, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Quando percebeu que o garoto não estava em locais que costumava frequentar, A.Q.J. providenciou o registro da ocorrência. “Eu ia para a rua todos os dias, buscando pistas. Também procurei a delegacia e foi feito um cartaz com a foto dele. Colei nos lugares que achei que ele pudesse ir. A polícia encontrou meu filho e me avisou. Cada família tem seu problema. Meu filho saiu de casa por causa de um conflito, mas não seguiu um caminho de coisas ilícitas. Eu sempre valorizei o caráter do meu filho”, conta ao lembrar emocionado dos sete dias de angústia.

A família de A.Q.G é uma entre muitas que tiveram essa boa notícia. As estatísticas do sistema de Registro de Eventos de Defesa Social (Reds) apontam que em 2016 a quantidade de registro de desaparecidos reduziu 5%, passando de 9.503, em 2015, para 9.022 no ano passado. E a quantidade de pessoas localizadas aumentou. Em 2016 foram 4.767 registros, correspondentes a quase 53% do total de desaparecidos. Já no ano anterior o indicador ficou em torno de 48%, 4.570 registros de localização.

Contudo, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) alerta que muitas pessoas ainda acham que é preciso aguardar 24 horas para registrar o desaparecimento de uma pessoa. Na verdade, é o contrário. Para desconstruir esse mito com a população e até com alguns profissionais de segurança pública, a polícia mineira reforça a orientação.

De acordo com a delegada Elizabeth Freitas Assis Rocha, responsável pela Divisão Especializada de Referência da Pessoa Desaparecida, todo tempo e dados sobre o desaparecido são relevantes para a localização.

Um segundo, um minuto, uma hora pode ser crucial. A contribuição da família com informações também é fundamental. Temos muitos casos de sucesso, porque os familiares nos prestaram dados que foram essenciais. Por isso é importante não esconder nada da equipe de investigação, não encobrir nenhuma situação. As informações acerca da vida da pessoa são necessárias para nortear as nossas ações”

Delegada Elizabeth Freitas Assis Rocha 

Por isso, atenção: observada a ausência prolongada ou algo discrepante da rotina, a família deve procurar imediatamente uma delegacia ou unidade da Polícia Militar para comunicar o fato. Outra opção é fazer o registro via delegacia virtual (www.delegaciavirtual.sids.mg.gov.br). Esse procedimento é imprescindível para o início do trabalho investigativo o quanto antes e acionamento do alerta nos sistemas de Defesa Social. Alguns hábitos simples favorecem a segurança:

Perfil dos desaparecidos

Do total de registro de ocorrências de desaparecimento no estado, em 2016, a faixa etária com maior número de casos é de 12 a 17 anos, em torno de 38,5% (3.470­ ocorrências).

“O adolescente costuma ter um mundo paralelo ao ambiente familiar. É importante acompanhar a rotina, redes sociais, lugares que frequenta, quem são os amigos e rendimento escolar. Há casos em que os pais chegam com uma narrativa e quando vamos investigar vem a surpresa para a família. Por isso o diálogo é sempre importante”, ressalta Elizabeth Rocha.

A delegada conta que entre os motivos para sair de casa estão revolta por imposição de limites (amizades, namoro, festas etc) e fuga de violência doméstica e de abuso sexual.

Um segundo grupo de destaque são pessoas entre 35 e 64 anos, cerca de 26% do total registrado no ano passado, o que corresponde a 2.351 ocorrências.  A delegada explica que a motivação para o desaparecimento nesse grupo é variada.

“No caso de homens, é mais comum em situações de dívidas, dependência química e constituição de nova família. Já em relação a mulheres, por exemplo, em virtude de violência doméstica. Inclusive, chamo a atenção para importância do registro de violência contra a mulher”, destaca Elizabeth..

Encontro e acolhimento

Por intermédio da equipe de Assistência Social e de Psicologia da Divisão Especializada de Referência da Pessoa Desaparecida, o filho de A.Q.J. fez um curso sobre como se comportar em entrevista de emprego e elaborar um bom currículo, e também recebe acompanhamento psicológico.

“Sabemos do transtorno que o desaparecimento traz à família, por isso, além da investigação prestamos esse apoio com psicólogo e assistente social. Quando conseguimos encontrar a pessoa, temos o sentimento de dever cumprido e, principalmente, de proporcionar conforto para a família. O nosso objetivo é a pronta-resposta para que a pessoa seja localizada com vida”, destaca a delegada Elizabeth Rocha.

Comunicado de localização

Tão importante quanto o registro da ocorrência de desaparecimento é o comunicado de localização da pessoa. “Assim que o ente é encontrado, a família deve procurar a Polícia Civil para registrar o fato. Isso é importante para cessarmos o alerta e concluirmos a investigação, possibilitando empreender mais tempo em outros casos ainda não resolvidos”, orienta Elizabeth Rocha. Esse comunicado pode ser feito pessoalmente em uma unidade da PCMG ou via Delegacia Virtual.

Estrutura

Todas as unidades da Polícia Civil no Estado estão capacitadas para atuar na investigação de pessoas desaparecidas. Em Belo Horizonte, o cidadão conta com a Divisão Especializada de Referência da Pessoa Desaparecida, que além de trabalhar nos casos da capital, presta assistência às demais delegacias da Região Metropolitana e do interior na confecção dos cartazes dos desaparecidos, que são padronizados, bem como na divulgação. Há, ainda, a colaboração entre as unidades na investigação dos casos, sobretudo quando a pessoa desaparecida se desloca de uma cidade para outra.

Ajude! Quem tiver informações sobre pessoas desaparecidas deve ligar para o telefone 0800 2828 197 (ligação gratuita e sigilosa).

Agência Minas

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