Embora não haja um perfil social definido de alguém que abusa sexualmente de menores – o criminoso pode ter qualquer idade, religião, condição econômica ou cultural -, há alguns pontos comuns em abusadores.
Segundo a delegada Renata Fagundes, da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), geralmente, o abusador é alguém da família ou muito próximo da criança, como um vizinho ou conhecido. “Geralmente é alguém que a criança tem algum tipo de vínculo, inclusive afetivo, certa dependência ou algum laço de confiança”.
Outra semelhança é que, na grande maioria das vezes, os autores são homens. Uma dica da delegada é conhecer as pessoas que convivem com seus filhos, os profissionais que cuidam da criança, o motorista da van, os vizinhos. “Às vezes, pessoas estranhas frequentam a sua casa, as portas dos quartos ficam abertas. É preciso estar atento às pessoas do convívio da criança”, alerta.
A psicóloga da Depca, Jaqueline de Araújo, completa: “Além disso, é importante manter a proximidade com a criança para que ela tenha liberdade de falar sobre qualquer coisa, fortalecer o vínculo com os filhos e ter uma relação de confiança”.
É desta forma também que o responsável pela criança acaba notando alguma diferença em seu comportamento, como explica a professora de Psicologia do Desenvolvimento das Faculdades Promove Luciana Moreira.
“Geralmente, quem acompanha a criança está atenta às diferenças que ela pode manifestar no comportamento. É possível que ela manifeste algum sinal de abuso, mesmo que não verbalmente, mas em seu próprio comportamento”.
A Polícia Civil disponibiliza uma cartilha direcionada aos pais e responsáveis que, de forma didática, orienta sobre os crimes contra crianças e adolescentes. Para acessar, basta clicar aqui.
Como conversar com crianças
A psicóloga da Depca, Jaqueline de Araújo, explica que, no ambiente doméstico, na escola ou na delegacia, o processo de se ouvir uma criança demanda alguns cuidados. “Em casa, os pais devem estar atentos às alterações de comportamento da criança, mas lembrar que nem sempre isso indica um abuso, pode ser outro problema. Na hora de conversar com o filho, é importante não fazer perguntas muito diretas que possam induzir uma resposta, porque a gente sabe que crianças, especialmente muito pequenas, tendem a positivar as perguntas da mãe, por exemplo”.
Segundo ela, falar sobre sexualidade desde cedo com os filhos também é um dos principais fatores para se evitar abusos ou mesmo estimular que a criança entenda quando há algum comportamento errado de algum adulto direcionado a ela.
“É importante fazer a criança conhecer o próprio corpo, os limites deste corpo, quem pode tocar e como poder tocar, quais as circunstâncias deste contato. Desta forma, a criança vai saber quando alguém ultrapassar este limite. Algumas vítimas que chegam aqui para o atendimento sequer sabem o que são partes íntimas. Os pais não podem fazer deste assunto um tabu, porque se não o filho vai entender desta forma também, algo que não deve ser falado. E isso pode assustar ou traumatizar a criança mesmo que não tenha acontecido nada. Esta conversa deve acontecer de forma natural e franca, porque o corpo também é algo natural”, explica.
A Polícia Civil também disponibiliza uma cartilha educativa direcionada às crianças para orientá-las sobre o próprio corpo e como saber se um adulto está tendo comportamentos indevidos. O material tem menos de 10 páginas e pode ser impresso pelos pais ou professores. Para acessá-lo, clique aqui.
A cartilha é direcionada para crianças e tem o formato de quadrinhos
“A gente tem a impressão que não pode falar de determinado assunto com a criança, mas podemos orientá-la sim, e isso não estimula a sexualidade. Claro que essa orientação deve ocorrer conforme a idade, mas quando a criança já começa a ter algum tipo de entendimento, já é possível conversar com ela sobre isso”, pontua.
Quando há suspeita de abuso, a escuta qualificada na delegacia é importante por fornecer uma prova essencial para embasar o inquérito, mas é somente uma parte do processo, conforme explica a delegada Renata Fagundes.
“Além da escuta, temos outras evidências que coletamos, como exames de corpo delito, outras provas testemunhais, depoimentos de representantes legais. É todo um conjunto de informações para se verificar a denúncia de abuso sexual de um menor”, detalha.
Hoje em Dia