Morador do Lourdes, bairro nobre de Belo Horizonte, um estudante de medicina foi detido na noite dessa terça-feira, 12, suspeito de cometer inúmeros golpes contra conhecidos e estabelecimentos comerciais. Apesar de inicialmente ter tentado impedir a abordagem policial alegando ser filho de juiz, o homem acabou confessando a prática de estelionato, conforme consta no boletim. Além de cartões clonados, os militares encontraram no apartamento dele produtos de luxo com procedência questionável e atestados médicos em branco – mas, carimbados.
Uma busca rápida nas redes sociais com o nome dele basta para encontrar algumas publicações acusando-o de ser golpista. Relatos em um grupo com alunos da Faculdade de Medicina da UFMG apontam que outras ocorrências já tinham sido feitas contra ele antes da prisão. De acordo com esses mesmos comentários, o suspeito não era matriculado na UFMG, e há um ano acabara jubilado da PUC Minas. A reportagem entrou em contato com as duas universidades para saber se ele era mesmo estudante de medicina de uma delas. A UFMG confirmou que o homem não integra o corpo discente, e a PUC declarou que ele não pertence mais ao quadro de alunos.
Conduzido até uma delegacia de plantão, o estudante foi liberado depois de ter sido ouvido. De acordo com a Polícia Civil, o crime de estelionato requer que as vítimas representem contra o suspeito. Até o momento, o proprietário do cartão de crédito usado pelo homem ainda não representou contra ele. As investigações já foram iniciadas, e ainda há prazo para que a vítima procure uma delegacia. “A PCMG espera que outras vítimas possam procurar a unidade policial para total apuração dos fatos”, comentou a corporação através de nota. A polícia declarou ainda que já existem outras investigações em andamento e que envolvem o suspeito justamente pela prática de estelionato.
Crimes descobertos
Na noite dessa terça-feira (12), os proprietários de uma padaria no bairro de Lourdes ligaram para a PM e declararam suspeitar da procedência do cartão de crédito usado por um cliente para pagar pedidos feitas através do WhatsApp. De acordo com os donos do estabelecimento, o homem já tinha feito duas compras anteriores usando esse mesmo cartão: a primeira em 28 de março no valor de R$ 1.094 e a segunda em 3 de maio, quando ele gastou R$ 645. Alguns dias após essas compras, o verdadeiro dono do cartão teria ligado para a loja e dito que não reconhecia a compra. Então, na noite de terça, quando o suspeito novamente pediu produtos ao estabelecimento pelo WhatsApp, os proprietários decidiram chamar a polícia.
Quando os militares chegaram ao prédio, que fica na rua Bernardo Guimarães e abordaram o suspeito, ele mostrou-se muito agitado e nervoso. De acordo com a PM, o estudante alegou que seu pai era juiz de direito para tentar escapar à abordagem. Após uma conversa, ele acabou confessando o crime de estelionato e permitiu que a polícia subisse até o apartamento. Garrafas de vinho, louças e outros artigos de luxo estavam espalhados pelo imóvel.
Aplicativo de relacionamento
Descoberta a suspeita, a polícia telefonou para o dono do cartão de crédito. Essa testemunha contou aos militares que conheceu o suspeito em um aplicativo de relacionamento. Depois de um encontro, ela teria ido até o apartamento do criminoso e permitido que ele usasse seu cartão para comprar um lanche através de um segundo aplicativo. A vítima acredita que nesse momento o criminoso clonou seus dados para usá-los em seguida em outras compras.
Ainda na noite dessa terça, a polícia entrou em contato com as lojas que venderam alguns dos produtos de luxo encontrados na casa do estudante. Os proprietários desses estabelecimentos também apontaram a suspeita de terem sido vítimas de golpes cometidos pelo homem, segundo o boletim. Espalhados pelo apartamento, atestados médicos em branco, mas carimbados, levantam a hipótese de que o estudante também tenha cometido crime de falsificação. Aliás, policiais encontraram um caderno usado pelo suspeito para treinar assinaturas. A ocorrência seguiu para a Delegacia de Flagrante.
Relatos de crimes
Uma publicação encontrada pela reportagem denunciando o suspeito em uma rede social foi feita em julho do ano passado. O autor do texto dá o nome completo do estudante de medicina e conta ter sido vítima de um golpe. Nos comentários, aparecem outros relatos de pessoas que dizem também ter registrado ocorrências contra o suspeito por crimes muito parecidos.
O Tempo