Continua em grande proporção na mídia o caso do garoto Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, que morreu depois de cair do 9º andar de um prédio no centro do Recife, na última terça-feira, dia 2 de junho. No momento do acidente a mãe dele, que trabalha como doméstica, passeava na rua com o cachorro da patroa, Sari Côrte Real, que é primeira-dama da capital pernambucana.

Um novo e inesperado capítulo surge nesta história dramática. O nome da mãe de Miguel Otávio, Mirtes Renata de Souza, consta no quadro de servidores da Prefeitura de Tamandaré, no litoral sul de Pernambuco, desde 2017. Ela trabalhava havia quatro anos como empregada doméstica na casa do prefeito, Sérgio Hacker (PSB), e da primeira-dama, Sari Côrte Real, no Recife.

No dia do acidente, Sari foi presa pela Polícia Civil em flagrante por homicídio culposo, por ter deixado que Miguel subisse sozinho no elevador. Ele foi até a cobertura, de onde escalou um buraco de ar condicionado, tentou acenar e chamar pela mãe na rua, e sofreu a queda fatal.

Sari foi liberada no mesmo dia depois pagar fiança no valor de R$ 20 mil.

Empregada do prefeito era paga com dinheiro público

Prefeito Sérgio Hacker pagava empregada doméstica com dinheiro público

Ontem, 5, a Promotoria de Justiça de Tamandaré instaurou um inquérito civil com a finalidade de apurar possível prática de improbidade administrativa do prefeito Sérgio Hacker. No portal da transparência municipal, Mirtes figura na folha de pagamento do município desde fevereiro de 2017. Ela recebe um salário mínimo e está lotada no setor de manutenção de atividades de administração.

A Promotoria de Justiça expediu ofício exigindo da chefia de gabinete da prefeitura, no prazo de três dias úteis, dados funcionais sobre a servidora, como cargo, função, método de controle de ponto, local de lotação, dentre outros.

O prefeito Sérgio Hacker somente se manifestou por meio de nota, dizendo que se encontra profundamente abalado e que, no momento próprio e de forma oficial, prestará informações aos órgãos competentes.

Responsabilidade

Para o delegado da Polícia Civil Ramon Teixeira, que preside o inquérito, no momento da saída de Mirtes para passear com o cachorro dos patrões, estes seriam responsáveis pela guarda do menino. Mirtes levou o filho par o local de trabalho por não ter com quem deixá-lo, já que escolas e creches estão fechadas devido à pandemia do novo coronavírus. E mesmo apesar da alta incidência da doença em Recife e com o próprio prefeito Hacker ter anunciado estar infectado com a Covid-19 em abril, Mirtes seguia trabalhando normalmente.

O acidente

Imagens do apartamento comprovaram que Miguel tomou o elevador sozinho sem ser impedido pela patroa da mãe. Em um primeiro momento o menino tentou sair do apartamento e a mulher o repreendeu. Em nova tentativa, a criança retornou ao elevador e nada foi feito para impedir. As imagens mostram Sari observando o menino entrar no elevador no 5º andar e registram o momento em que ela apertou o botão para a cobertura.

Após deixar o elevador, Miguel subiu em uma caixa de aparelhos de ar-condicionado e acabou caindo de uma altura de 35 metros. Ao retornar do passeio com a cadela, Mirtes já encontrou o filho estirado no chão, gravemente ferido.

“A responsabilidade legal naquela circunstância era da moradora. A criança permaneceu e estava sob a sua responsabilidade”, disse o delegado. “Ela tinha o poder e o dever de cuidar da criança e impedir, em última análise, o trágico resultado que adveio de uma tragédia.”

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