A Polícia Civil e o Ministério Público fizeram uma operação, nesta terça-feira (4), para investigar desde quando a cervejaria mineira Backer sabia do vazamento de produtos químicos em bebidas da marca. Os investigadores descobriram, recentemente, que fichas não datadas, usadas para o controle de qualidade interno de produção, traziam a informação de que havia derramamento de “glicol” nas cervejas.
Os documentos, de acordo com a promotora Vanessa Fusco, da 14ª Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor do Ministério Público, foram omitidos dos delegados que apuram o caso de intoxicação envolvendo a Backer. O material estava em posse do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de forma digitalizada, com indicação de supressão de anotações.
Com as novas evidências, a Justiça expediu mandado de busca e apreensão na sede da empresa. A ordem foi cumprida nesta manhã e, no local, os agentes públicos recolheram mais de mil documentos. Os papeis serão periciados e incluídos no inquérito da Polícia Civil.
Dependendo da conclusão, a Backer pode ser denunciada por mais crimes. Em junho, 11 funcionários e gestores da cervejaria foram indiciados por homicídio culposo – quando não há a intenção de matar -, lesão corporal culposa, intoxicação dolosa, omissão e falso testemunho. Além disso, a Backer também foi indiciada por vender e expor produtos que possam colocar em risco a população.
Por causa do vazamento de dietilenoglicol e monoetilenoglicou, pelo menos 29 pessoas foram envenenadas, sendo que 10 morreram. Há ainda outras 30 intoxicações suspeitas em análise.
Novas irregularidades
A promotora Vanessa Fusco explicou que as fichas trazem detalhes sobre produção da cerveja, como o dia e os ingredientes utilizados no processo de fabricação do líquido. Em algumas delas havia a anotação de “vazamento por glicol”. O preenchimento do documento não é obrigatório pelos órgãos fiscalizadores, mas foi encaminhado, de forma escaneada, para o Mapa. Contudo, as cópias suprimiam informações, o que levantou a suspeita.
A representante do MPMG informou que ainda é cedo para apontar se a Backer agiu de má-fé para omitir que sabia do vazamento ou se houve o manuseio inadequado do aparelho scanner. Fato é que as fichas tinham cortes que impediam a leitura do documento. “É uma descoberta que merece toda a nossa atenção”, destacou.
Mesmo sem a conclusão da análise das fichas, a promotora classificou que a cervejaria era “desorganizada” e foi negligente “ao utilizar inapropriadamente um produto tóxico em uma empresa alimentícia”.
Procurada, a Backer ainda não se manifestou sobre a ação realizada nesta terça-feira.
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