No início deste ano, contamos que a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) havia fabricado a primeira peça 3D por manufatura aditiva em uma parceria do Centro para Pesquisa e Desenvolvimento de Processos de Soldagem  (Grupo Laprosolda), da Faculdade de Engenharia Mecânica (Femec/UFU), com o Centro de Pesquisas da Petrobras.

É um processo semelhante à impressão 3D de plástico, porque, a partir de um desenho que o computador consegue ler, a impressora deposita camadas de material para produzir o objeto. Porém, as peças feitas na UFU são de metal e os pesquisadores chamaram esse processo de manufatura aditiva por deposição a arco (MADA). 

Trabalhar com metais trouxe desafios novos aos pesquisadores. Os metais precisam estar muito quentes para que a impressão 3D aconteça, mas depois têm que esfriar rapidamente para endurecer, senão a peça que vai recebendo a deposição de camadas desmorona, como um bolo de aniversário com muitas camadas de recheio mole.

Aí veio a novidade: os cientistas da UFU inventaram e patentearam um método para imprimir as peças de forma quase-imersa. “Eu faço dentro d’água, de forma que onde eu deposito fica fora d’água. À medida que eu vou subindo a deposição, vou fazendo outra camada, aí a água vai subindo, acompanhando”, descreve o professor Américo Scotti. Segundo o pesquisador, as peças têm mais qualidade e a produção é mais rápida. Também fazem parte do projeto o coordenador do Laprosolda, Louriel Oliveira Vilarinho; o professor Ruham Pablo Reis, que era doutorando e agora também é docente da Femec; Leandro da Silva e outros pesquisadores do Laprosolda.

Após quase 30 anos de UFU, Scotti se aposentou e hoje é professor da University West, na Suécia, mas mantém o vínculo com a Femec/UFU como docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica e pesquisador do Laprosolda. Em fevereiro deste ano, Scotti recebeu o prêmio indiano 2020 IIW-India Life Excellence Award, por suas contribuições para o avanço da ciência da soldagem. Em 2019, ele havia recebido o título de Fellow of IIW Award do Instituto Internacional de Soldagem, também por suas contribuições à área. Ele é, ainda, editor da revista Welding in the World (Soldagem no Mundo). 

Além da pesquisa, Scotti faz planos para a extensão. Ele acredita que é possível construir, com apoio de uma prefeitura ou de uma associação de indústrias, uma cooperativa para produzir as peças de manufaturas aditivas. “Não precisa estar perto da indústria para fazer isso, porque eles me mandam um desenho em CAD [desenho assistido por computador] por e-mail, a gente transforma isso em uma linguagem que o robô possa ler e o robô consegue fazer a peça. Eu poderia entregar essa peça por correio. Isso abriria uma chance para que, com razoavelmente baixo investimento, houvesse inserção social de uma comunidade no ramo industrial, fato nem sempre tangível ou imaginável. Isso poderia aproximar a ciência da população, ou melhor, viabilizar a aplicação de uma ciência gerada no seio da UFU pela população “, explica.

UFU

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