A violência familiar está presente em diversos lares, e não há distinção entre classe social, raça, etnia, escolaridade e gênero
O relacionamento abusivo que acontece entre um casal, seja, ele heteroafetivo ou homoafetivo apresenta através de intimidações, humilhação, ciúmes e possessividade exagerados, controle sob as decisões e ações do parceiro, isolamento do parceiro até mesmo do convívio com amigos e familiares, violência verbal ou física, desqualificação, faz com que a pessoa se sinta mal consigo mesma, ameaça com armas brancas ou armas de fogo, forçar relações sexuais, impondo situações constrangedoras e humilhantes ao parceiro e outros.
A partir da criação da Lei Maria da Penha – nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, a violência contra a mulher principalmente o que diz respeito ao relacionamento abusivo, é um tema que vem ganhando maior relevância nos últimos anos. A Lei estabelece algumas formas gerais de violência, sendo elas: a violência física; a violência psicológica; a violência sexual; a violência patrimonial e a violência moral.
Existe um ciclo do relacionamento abusivo e acontecem em três fases. No primeiro se dá através da agressão verbal com gritos, xingamentos, ameaças. Na segunda fase é a explosão da violência, que se apresentam em forma de espancamentos, murros, chutes, é o momento em que as agressões atingem níveis elevados. Na terceira fase, é onde se aparece o arrependimento, essa fase é nomeada de “lua de mel”, onde o agressor se arrepende de todo o mal que causou e sente remorso de perder a companheira.
O agressor manipula a vítima fazendo-a pensar que é culpada, e, como resultado, ela tenta agradá-lo cada vez mais. Ele a faz acreditar que as coisas vão melhorar, torna-se afetivo após as situações de violência, mas depois de algum tempo volta ao ciclo da agressão. A maioria dos agressores não sente culpa e as vítimas se submetem ao agressor.
A violência doméstica, mais especificamente o relacionamento abusivo, para ser resolvida, precisa de uma “intervenção externa” . É difícil uma mulher que consiga desvincular-se de um homem violento sem auxílio externo. Esse auxílio externo pode vir com o apoio de algum parente, amigos da vítima, intervenção de vizinhos, leis, centro de apoio, delegacia específica, faz-se necessário à atuação da sociedade e de equipamentos e políticas públicas para ajudar no processo de ruptura da relação abusiva.
Quando analisada as práticas de violência descobre que elas se referem a conflitos de autoridade, a lutas de poder e à vontade de domínio, posse, aniquilamento do outro ou de seus bens, insegurança e outros.
A violência física é compreendida como qualquer comportamento que venha a denegrir a integridade física ou a saúde corporal. Na violência psicológica é caracterizada por qualquer conduta que cause um dano emocional na pessoa agredida, diminuindo a autoestima, prejudicando seu desenvolvimento, bem como controlando seus comportamentos e crenças. Ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, chantagem e exploração também representam prejuízo à saúde psicológica. A violência sexual gera constrangimento ao violado em presenciar, manter ou participar de relação sexual não consentida, bem como que a impeça de usar qualquer método contraceptivo; que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição. Já a violência patrimonial é caracterizada por ações que configurem retenção, subtração ou destruição (parcial ou total) dos objetos da mulher. A violência moral que consiste em qualquer comportamento que represente calúnia, difamação ou injúria.
Verificamos a existência de oito grupos característicos de perfis de agressores homens: eles são incapazes de controlar os seus impulsos e mudam rapidamente seguindo um padrão; exigem obediência total às regras e que, sem nenhuma emoção aplicam castigos àqueles que as infringem; são rebeldes, hostis e com baixa autoestima; agressivos e antissociais; com grandes e inexplicáveis mudanças de humor; externamente agradáveis, mas incapazes de lidar com a rejeição e agressivos quando sentem que a companheira os decepcionou; excessivamente dependentes, ansiosos e deprimidos.
A dependência das mulheres agredidas em relação aos seus parceiros pelos mais diversos fatores, leva-as a ter uma atitude passiva para com o agressor, não os denunciando. O indivíduo passivo não produz respostas adequadas em favor do que acredita e, sendo um acontecimento frequente, os efeitos podem ser o rebaixamento de humor, autoimagem empobrecida, sensação de ineficácia, perda de oportunidades, ansiedade, sensação de falta de controle da situação e de si, sentimento de solidão, baixa autoestima, e outros. A mulher com comportamentos passivos favorece o domínio do agressor sobre ela, visto que ele apresente como controlador.
O momento em que decide efetuar a denúncia é muito difícil para a mulher vítima de violência, pois existe a pressão da própria família para acomodação do conflito. Podendo ocorrer à revolta tanto da família quanto da mulher, e tenta-se colocar a responsabilidade sobre ela. As vítimas apontam que a permanência nesses relacionamentos abusivos se deve também à baixa autoestima, a visão prejudicada de si mesma, o medo de viver sozinha e de não ser amada novamente.
Largar um relacionamento abusivo não é nada fácil, é necessário coragem e amor próprio para se desfazer de sentimentos e laços muito fortes. A vítima precisa do apoio de amigos, familiares e profissionais que são fundamentais para que as elas consigam enxergar o relacionamento abusivo que se encontra.
Os motivos para a violência são vários, os danos causados são imensuráveis e profundos. Não somente o físico, mas de cunho psicológico também. Então o psicólogo é o profissional importante para a vítima, para que seu restabelecimento psicológico e sua qualidade de vida pós-trauma, seja focado em acolher, orientar, resgatar seus desejos e vontades que ficaram sufocadas com uma relação marcada pela violência. Que a vítima possa ter a possibilidade de dar um rumo novo e revisitar a si mesma, reconhecer quem ela é.
Referência Bibliográfica:
Pereira, D., Camargo, V., & Aoyama, P. (2018). Análise funcional da permanência das mulheres nos relacionamentos abusivos: Um estudo prático. Revista Brasileira De Terapia Comportamental E Cognitiva, 20(2), 10-25. https://doi.org/10.31505/rbtcc.v20i2.1026
Pereira, D.C. de Souza ; Camargo, V. Silva; Aoyama, P.C. Novaki. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. Análise funcional da permanência das mulheres nos relacionamentos abusivos: Um estudo prático. Universidade Paranaense – Unipar. ISSN 1982-3541Volume XX no 2, 9-25.
Albertim, R.; Martins, M. Ciclo do relacionamento abusivo: desmistificando relação tóxicas. Universidade Federal Rural de Pernambuco, PE. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Joinville – SC – 2 a 8/09/2018.