Neste ano, foram registrados 23 mil casos em todo país, pelo Disque 100, o equivalente a uma denúncia a cada dois minutos

As denúncias de violência contra crianças e adolescentes, registradas junto ao Disque 100 do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, cresceram 50,4% entre 2023 e 2022. Só no ano passado, foram mais de 228 mil registros em todo o país.

Casos como o do pequeno de Davi. “A saudade grita, daquela criança que eu acordava, todo dia de manhã, arrumava para deixar na escolinha, preparava a lancheira e, hoje, você não ter mais aquela criança do seu lado… é muito difícil”, desabafa Fábila Kêmila, mãe do menino.

Hoje, Davi não fala, não anda, e só se alimenta por sonda. A mãe e o pai se separaram depois de nove anos casados. A justiça concedeu guarda compartilhada. “Ele foi para a cada do pai. A sua madrasta torturou ele, e o Davi chegou morto no hospital, com parada cardiorrespiratória”, lembra a mãe.

Reanimada pelos médicos, a criança espancada tinha apenas 4 anos. Fábila denunciou o ex-marido Clayton Augusto Souza do Carmo e a madrasta Beatriz Rodrigues Matos. Os dois foram presos em flagrante. Mas, a Justiça do Amazonas, onde a família morava, concedeu o benefício ao casal de responder pelos crimes de tortura e tentativa de homicídio em liberdade.

Os relatos de violência contra crianças e adolescentes, porém, não param de crescer no país. Só nos primeiros 36 dias deste ano, de acordo com o Disque 100, foram 23 mil casos – o equivalente a uma denúncia a cada dois minutos.

E o mais grave: em cada registro, podem ser identificados mais de um tipo de crime, que vão desde agressões físicas e psicológicas a abusos, que deixam marcas profundas nas vítimas, para além do corpo, conforme explica o secretário-executivo da Coalização Brasileira pelo Fim da Violência Contra Crianças e Adolescentes, Lucas Lopes.

“As crianças, além de todo trauma, além de todas as consequências no seu desenvolvimento, podem se tornar perpetradoras dessa violência, ou seja, nós não conseguimos quebrar o ciclo geracional dessa violência”, pondera o especialista.

Para a coalização, que reúne mais de 60 instituições, faltam recursos para prevenir e combater essa violência. O grupo indica ainda a ausência de ações integradas nos três níveis de governo, além de investimento em educação e em programas de proteção às famílias mais vulneráveis. “Quando a violência alcança o corpo da criança e do adolescente, sempre é tarde demais, e significa que todos nós falhamos”, acrescenta Lucas Lopes.

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