Modelo será testado em empresas brasileiras entre setembro deste ano e maio de 2024

O ato de trabalhar excessivamente está perdendo a popularidade entre os profissionais, que hoje prezam por uma maior qualidade de vida, colocando folgas e horários flexíveis acima de salários ou cargos altos. Uma das principais alternativas exploradas é a jornada de trabalho de quatro dias, que será testada no Brasil a partir de novembro deste ano. Além de diminuir o estresse dos funcionários em 40%, bem como os casos de burnout, o modelo promete aumentar a receita das empresas em mais de 1%.

A jornada é conhecida como 100-80-100, isto é, 100% de pagamento do salário, trabalhando 80% do tempo e mantendo 100% da produtividade. O projeto piloto foi realizado na empresa financeira Perpetual Guardian, da Nova Zelândia, e acompanhado pela Universidade de Auckland. Com os resultados positivos, como a maior dedicação da equipe com as tarefas e a preservação da saúde mental dos funcionários, a jornada de 32 horas começou a ganhar espaço em diferentes empresas pelo mundo.

No Reino Unido, por exemplo, 56 das 61 empresas que adotaram o piloto decidiram continuar com o modelo, sendo que em 18 a política será permanente. Além do maior engajamento, as companhias registraram um declínio de 57% na probabilidade de um funcionário pedir demissão, já que 54% dos trabalhadores acharam mais fácil conciliar a vida profissional e pessoal. Ainda de acordo com o piloto, 15% dos colaboradores disseram que não voltariam à jornada de cinco dias mesmo se recebessem um aumento.

“Será que precisamos de tantas reuniões? Será que conseguimos ser objetivos com a pauta da reunião? Será que precisa de tantos participantes? O modelo 100-80-100 não é para tirar um dia da semana, mas redesenhar nossa forma de atuar, fazendo uma melhor gestão de tempo, automatizando processos, delegando e principalmente revendo prioridades”, afirma Renata Rivetti, fundadora do Reconnect Happiness at Work, empresa que será responsável por testar a jornada no Brasil.

Ela explica que a experiência será de seis meses – novembro de 2023 a maio de 2024 – para avaliar a adaptação das companhias com o modelo. A expectativa é que o modelo diminua os impactos na saúde mental dos funcionários, uma vez que o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de ansiedade, segundo no de casos de síndromes de burnout e quinto no de depressão. “É bom para a empresa, bom para os clientes e bom para os colaboradores. E, no fim, bom para a sociedade”, afirma Renata.

Caso seja benéfico e decidam adotar a jornada de quatro dias, as empresas deverão conversar com os funcionários para, posteriormente, documentar a alteração contratual. Isso porque o modelo não concede um “fim de semana estendido”. A possibilidade é que seja feito um rodízio, com escala de dias de folga além do fim de semana. No caso das companhias que atuam aos domingos, os colaboradores terão que ter uma folga no dia em questão a cada quatro semanas.

“Como não há previsão legal, essa situação seria uma regulamentação por política da empresa ou por acordo coletivo. O risco é como a legislação e os Tribunais entenderão esse tipo de situação, pois a lei veda alteração prejudicial de condição de trabalho, depois de implantada uma mais benéfica. Assim, as empresas deverão tomar cuidado ao documentar a experiência com início e fim. Se for implantar definitivamente, a empresa não poderá voltar atrás a não ser para novos empregados”, diz a advogada trabalhista Maria Lucia Benhame.

Apesar de soar positivo, a advogada afirma que o modelo de trabalho espera um grande nível de produtividade, algo como foco 100% nas tarefas do dia, o que pode acabar gerando uma maior cobrança e estresse para o funcionário. Ela ressalta que, na maioria dos países, o projeto piloto foi implementado em empresas de grande porte, com mais de 100 funcionários. A experiência pode ir contra a realidade do Brasil, que possui uma maioria de pequenos negócios. Renata ainda questiona a expectativa de aumento de vagas.

“A Constituição Federal de 1988 reduziu a jornada de trabalho em 10%, mas não houve 10% a mais de empregos no mês seguinte, nem nos anos seguintes apenas por isso. O que gera emprego é a economia rodando e segurança que ela vai continuar rodando. Então, é preciso ver bem a lei brasileira para, assim, definir a formatação, pois senão, por risco jurídico, muitas empresas poderão não aderir”, afirma Lucia.

A companhia interessada em participar do programa deverá responder a um formulário disponível no site para ter acesso ao material.