Professor de Imunologia da UFU explica que 1ª e 2ª doses são essenciais para imunização

O Brasil segue o plano de vacinação para combater a pandemia de Covid-19, causada pelo coronavírus. O professor de imunologia Tiago Mineo, do Instituto de Ciências Biomédicas (Icbim) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), afirma que cumprir a indicação e tomar as duas doses da vacina é a melhor resposta de proteção e imunização para a saúde pública. Confira a entrevista:

Portal Comunica – Por que precisamos de duas doses de vacina contra a Covid-19?

Tiago Mineo – Ainda estamos aprendendo sobre como seria a forma mais eficiente de imunizar a população, uma vez que conhecemos este vírus há pouco tempo. Sendo assim, as melhores estratégias vacinais até o momento são imunizações em duas doses. É esta estratégia que irá gerar o melhor resultado possível de proteção da população dentro dos conhecimentos que adquirimos até o momento.

É preciso ressaltar que, apesar de estarmos aprendendo sobre esta infecção, a ciência produzida ao longo das últimas décadas levou a produção de vacinas extremamente seguras e eficientes contra Covid em um período recorde. Certamente, essas tecnologias serão ainda mais refinadas nos próximos meses, nos auxiliando a terminar este período tão triste de nossas vidas. É muito provável que tomaremos doses anuais de vacinas contra Covid-19, assim como é feito para a gripe.

Qual é a importância de tomar a 2ª dose?

As duas doses são complementares na geração da imunidade contra a infecção, ou seja, a ausência de uma das doses compromete o potencial de resistência induzido pelo imunizante mediante contato com o vírus.

Como o corpo reage à 2ª dose?

O tipo de resposta imune gerada pela imunização será diferente para cada vacina e indivíduo. Contudo, as vacinas contra Covid-19 em uso no Brasil são seguras e eficientes na geração de uma resposta mediada por células e anticorpos neutralizantes específicos. Estes componentes são derivados do que chamamos de memória imunológica: as vacinas ‘treinam’ certas células de nosso sistema imune para combater o vírus da melhor forma possível, no caso de o encontrarmos no futuro. Na ausência de uma das doses, este ‘treinamento’ será incompleto e pode não ser suficiente para debelar a infecção, levando potencialmente a quadros clínicos graves, hospitalizações e mortes.

A recomendação da fabricante da vacina Pfizer, por exemplo, é tomar a 2ª dose após 21 dias da 1ª dose. A eficácia diminui se o intervalo for de três meses?

O ideal é que a bula da vacina seja seguida, uma vez que a descrição contida reflete os testes realizados quando de sua aprovação de uso junto aos órgãos reguladores, que no Brasil é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Em relação à vacina da Pfizer, o governo do Brasil está flexibilizando o prazo entre doses indicado na bula para até 90 dias, com base no que já foi feito no Reino Unido. Estudos científicos de lá indicam que há algumas alterações no padrão de imunidade. Mas, na teoria, não afetaria a eficácia da imunização.

Minha opinião é que este protocolo alternativo para aumentar o número de pessoas parcialmente imunizadas, enquanto ainda temos dificuldades na obtenção de todas as doses do imunizante necessário para a proteção completa.

Então a vacina perde o potencial se a 2ª dose for tomada atrasada?

Sim. Mas, apesar de não ser o ideal, o atraso na segunda dose ainda oferece um certo grau de resistência contra a infecção.

E se a pessoa ignorar essa etapa?

Para quem não tomar a segunda dose, o efeito da imunização deve ser comprometido, deixando o indivíduo, na melhor das hipóteses, parcialmente protegido.

Lembrando que os diferentes fabricantes das vacinas que temos hoje disponíveis preconizam que o intervalo mínimo para a proteção ideal é de 15 dias após a administração da segunda dose da vacina.

As pessoas que sentiram reações após tomar a 1ª dose podem sentir desconfortos na 2ª etapa?

Sim, as reações vacinais podem ocorrer novamente após a segunda dose. Eventualmente, indivíduos que não tiveram reações após a 1ª dose podem apresentar alguns sintomas após a segunda. Mas a maioria das pessoas não sente nada ou pouco desconforto no local da aplicação e outros sintomas leves. Tudo vai depender de cada organismo e como ele reage ao imunizante.

E o que fazer nesse caso?

Para melhorar os efeitos colaterais da imunização, recomenda-se adotar as medidas que usamos para os quadros gripais, como repouso, administração de antigripais e analgésicos comuns e compressas frias no local da aplicação. Isso vai resolver a grande maioria dos sintomas apresentados.

É preciso deixar muito claro que os efeitos da infecção pelo vírus indutor da Covid-19 são muito mais severos. Não há medicamentos conhecidos que controlam a replicação do vírus, ou que amenizem de forma contundente a desordem inflamatória gerada. Enquanto isso, as reações da vacina são muito mais brandas, sendo facilmente contornadas com a estratégia descrita acima. Efeitos colaterais graves após a vacinação são raros e não devem impedir ninguém de ser imunizado, a não ser em condições muito específicas indicadas por meio de acompanhamento médico.

Fonte: Portal Comunica UFU

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