Planos são denunciados por atrasos em cirurgias de urgência – queixas por procedimentos negados aumentaram 200%

Um levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostra que, nos últimos cinco anos, as reclamações contra planos de saúde por não cumprimento de prazos quadruplicaram. As queixas de cirurgias negadas também aumentaram drasticamente, com um crescimento de quase 200%.

José Carlos Ferreira, de 62 anos, era policial civil e sofria de uma grave doença na coluna, com risco de tetraplegia. Ele precisaria de uma cirurgia urgente para descompressão da medula cervical. No entanto, a operadora do plano de saúde decidiu realizar uma auditoria antes de liberar o procedimento, o que atrasou a cirurgia em quase um mês.

Durante esse período de espera no hospital, José Carlos contraiu pneumonia e, após finalmente ser operado, faleceu uma semana depois por falência pulmonar. A esposa de José Carlos, que o acompanhava no hospital, também contraiu pneumonia e faleceu um dia antes do marido.

O neurologista de José Carlos acusa o médico Valdir Delmiro Neves pela demora no atendimento. Ele é integrante do Conselho Regional de Medicina da Paraíba e é também responsável pela liberação das cirurgias pelo plano.

“O conselheiro do CRM do estado da Paraíba que é responsável pela auditoria do plano, que deveria defender pelo código de ética, é quem está por trás dessas decisões e não é um fato isolado, a gente tem outros pacientes com atraso no tratamento”, diz.

“Esse profissional condiciona a autorização da cirurgia do paciente caso o profissional aceite trocar a técnica por uma técnica mais barata, muitas vezes não sendo a mais indicada”, completa.

A família entrou com uma denúncia no Ministério Público da Paraíba, alegando que o plano transformou um caso urgente em eletivo, o que prolongou ainda mais o processo de autorização da cirurgia.

A operadora do plano de saúde, em nota, negou que o atraso tenha sido o motivo da morte do paciente, afirmando que todas as decisões foram tomadas com base no Código de Ética Médica.

Além de José Carlos, outros pacientes enfrentam situações semelhantes. Ana Paula, afastada do trabalho há mais de um ano para tratar uma hérnia de disco, teve seu procedimento negado e só conseguiu a liberação após uma decisão judicial. Da mesma forma, Edílson, de 56 anos, aguarda há meses a autorização para operar a coluna, mesmo após pagar por um plano de saúde por 25 anos. Ele já recorreu à justiça, que determinou um prazo de 10 dias para a cirurgia ser realizada, mas continua aguardando.

O Conselho Federal de Medicina e a ANS estão estudando novos critérios para auditorias médicas, visando evitar atrasos em atendimentos de emergência. Enquanto isso, as famílias de pacientes, como a de José Carlos, enfrentam o sofrimento de perder seus entes queridos por complicações que poderiam ter sido evitadas.