Enquanto vistoriava a preparação de um dos terrenos de treinamento que será usado para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, um empresário revelou à reportagem do jornal O Estado de S.Paulo: a administração de Vladimir Putin não tem feito os pagamentos combinados pelas obras e, por enquanto, é ele mesmo quem tem bancado a construção.
Temendo represálias de um governo conhecido por seu estilo autoritário, o construtor pediu de maneira insistente para manter o seu nome e o de sua empresa no anonimato. “Perco tudo o que eu tenho se meu nome for revelado”, alegou.
A esperança do empresário, que gastou cerca de US$ 2,2 milhões (R$ 7,1 milhões, na cotação atual) em um campo de treinamento, é que o Ministério dos Esportes russo acabe liberando o dinheiro. Mas já teme eventual conflito nos tribunais.
Faltando quatro meses para a Copa do Mundo, a Rússia conta hoje com apenas cinco estádios prontos: São Petersburgo, Kazan, Sochi e as duas arenas de Moscou. Os outros sete continuam em obras e, no caso de Samara, o atraso é calculado em dois meses.
Com gastos de US$ 13,2 bilhões (R$ 42,6 milhões), o Mundial de 2018 será o mais caro da história. Mas, para críticos do governo russo, não existe espaço na imprensa nem entre os ativistas do país para se investigar o motivo dos gastos inéditos para uma competição como essa – mesmo que metade do dinheiro venha dos cofres públicos.
Consultado, o Comitê Organizador da Copa insiste que não vê problemas com desequilíbrio do cronograma e que todos os estádios pendentes serão concluídos nas próximas semanas. Os organizadores garantem também que as arenas receberão jogos para testar a infraestrutura. Quando a reportagem solicitou as datas dos testes, não obteve respostas.
Vladimir Putin indicou que terá uma reunião com o presidente da Fifa, o suíço Gianni Infantino, para organizar a reta final da preparação. Mas, segundo a imprensa oficial russa e que serve de porta-voz para Putin, a vontade do Kremlin de se envolver diretamente na organização não é um sinal de problemas.
MILHÕES
Uma realidade diferente, porém, é a que as cortes russas revelam. No início de fevereiro, o Ministério dos Esportes entrou com seis processos nos tribunais reclamando uma indenização de US$ 50,8 milhões (R$ 164 milhões) por causa dos atrasos nas obras de estádios.
Apenas da empresa de Gennady Timchenko, aliado de Putin, o governo quer recuperar US$ 17 milhões (R$ 54,9 milhões). Timchenko seria o responsável pelo andamento crítico dos trabalhos em dois estádios: Nizhny Novgorod e Volgograd. Ex-engenheiro de um dos ministérios no regime soviético e hoje com uma fortuna acumulada em US$ 16 bilhões (R$ 51,6 milhões), o empresário está hoje na lista da Casa Branca de russos que sofrem embargos e sanções por seu papel dentro do governo de Putin depois da anexação da Crimeia. O restante dos valores viria dos problemas nas obras em Samara, Kaliningrado, Ekaterinburgo, Rostov e Saransk.
Uma das queixas é contra a empresa Crocus International, contratada pelo ministério para erguer os estádios de Rostov e de Kaliningrado por um total de 400 milhões de euros (R$ 1,6 bilhão). A Fifa prefere não comentar publicamente a situação. Mas quer garantias de que as últimas arenas a serem entregues possam realizar seus testes pré-Copa entre os meses de março e abril.
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