Em um Maracanã com mais de 60 mil torcedores, Brasil e Argentina reeditam um dos maiores clássicos do futebol mundial. Além dos atrativos naturais de um duelo de tamanha rivalidade, aquela partida no dia 7 de julho de 1957 reservava um ingrediente extra: a estreia com a Amarelinha de um garoto franzino, que ainda não havia completado sequer 17 anos. Seu nome: Pelé. Quem compareceu ao estádio há exatos 60 anos não podia imaginar que estava presenciando o surgimento daquele que viria a ser o maior artilheiro da história da Seleção e o maior jogador de todos os tempos…
Pelé era quase um desconhecido para boa parte dos torcedores. Afinal, havia disputado apenas 34 partidas como jogador profissional! Após se destacar em clubes amadores de Bauru, fora contratado pelo Santos e estreara pelo Peixe apenas dez meses antes, no dia 7 de setembro de 1956, na goleada de 7 a 1 sobre o Corinthians de Santo André. Fenômeno precoce – tinha exatos 15 anos, 10 meses e 14 dias -, já foi logo balançando as redes… Ainda jogou mais uma vez em 1956 (4 a 2 no Jabaquara, com direito a mais um gol), mas só passaria a ser titular a partir de fevereiro de 1957.
No total, antes de estrear pela Seleção, foram 30 jogos pelo Santos (19 vitórias, quatro empates e sete derrotas) e outros quatro por um combinado Santos/Vasco (uma vitória e três empates). Neste período, já foi logo impressionando, com a incrível marca de 24 gols. Era natural que fosse observado com mais atenção pelo então técnico da Seleção, Sylvio Pirillo, que apenas começava seu trabalho.
Impressionado com a garotada do Peixe, em junho Pirillo já havia convocado quatro atletas do Santos (Zito, Pagão, Del Vecchio e Tite) para suas primeiras partidas no comando da Seleção, diante de Portugal: 2 a 1 no Maracanã e 3 a 1 no Pacaembu.
No mês seguinte, para a disputa da Copa Roca (atual Superclássico das Américas) com a Argentina, o ‘acaso’ acabou dando uma forcinha. Mais preocupados com as excursões ao exterior, que ajudavam a engordar seus cofres, os clubes relutaram em ceder seus jogadores. O Botafogo não liberou Nílton Santos, Didi e Garrincha. O Flamengo fez o mesmo com Dida e Dequinha. Para piorar, Boquita (Corinthians) e Riberto (São Paulo), inicialmente convocados, foram cortados por lesão. Pirillo, então, teve a ousadia de convocar dois garotos: Pelé e Mazzola (este prestes a completar 19 anos).
Com 16 anos, oito meses e 15 dias, Pelé ficou como opção no banco de reservas. Em campo, o time brasuca não começou bem. A defesa se apresentava insegura e Zito era o único que se destacava. Os argentinos, mais organizados, eram liderados pelo veterano Labruna (39 anos), autor do primeiro gol.
No intervalo, parte da torcida do Maracanã – que conhecia Pelé pelas suas exibições no torneio Rio-São Paulo – pediu pela entrada do jogador. Pirillo atendeu, o garoto entrou no lugar de Del Vecchio, seu companheiro do Santos, e incendiou o jogo. Não demorou a dar seu cartão de visitas. Aos 32 minutos, recebeu lançamento de Moacir dentro da área e, mesmo bem próximo ao goleiro Carrizo, teve a tranquilidade de um veterano para, de pé direito, colocar à esquerda, no fundo das redes. Era apenas o primeiro dos 97 gols que faria com a camisa da Seleção…
Fato que naquele dia a alegria duraria pouco, pois no minuto seguinte a Argentina chegou ao segundo gol com Juárez. Mas não havia de ser nada… Três dias depois, no segundo duelo contra a Argentina, Pelé começou como titular e fez um dos gols na vitória de 2 a 0 que garantiram o caneco para o Brasil. Era só a primeira de muitas taças que viriam… Começava ali a trajetória que resultaria em três títulos mundiais (1958, 1962 e 1970), muitos gols, dribles, jogadas memoráveis e o status de maior jogador de futebol de todos os tempos. A monarquia Pelé estava definitivamente inaugurada.
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