A assinatura do presidente do Cruzeiro José Dalai Rocha no documento que determina a expulsão de conselheiros do quatro do Conselho Deliberativo do clube, tem gerado muita discussão e debates. A inserção de nomes ligados a pessoas fortes na política cruzeirense, como o filho do ex-senador Zezé Perrella, Gustavo Perrella, e também de um ex-dirigente da gestão de Wagner Pires de Sá (Sérgio Nonato, o “Serginho”).

Após receber ameaças e e-mails com xingamentos, José Dalai Rocha publicou um artigo intitulado de “A lei é para todos?”. O presidente celeste questiona no texto sobre justiça igualitária no restrito cumprimento do estatuto do clube.

Inicialmente, a lista de conselheiros tinha 32 nomes. Dois citados nesse documento acabaram não sendo expulsos, já que se anteciparam e pediram renúncia ao cargo de conselheiro do Cruzeiro: Rogério Nunes, assessor de Zezé Perrella no Conselho Deliberativo, e Renê Salviano, diretor comercial.

“Cerca de 30 mantiveram-se na situação conflitante, vedada pelo Estatuto, afinal definida pelo Conselho de Ética e Disciplina, depois de ouvir cada um dos envolvidos. Em consequência, lavraram-se os atos de desligamento, agora assinados. Ou assino todos, ou não assino nenhum, respondi enquanto concluía a dolorosa tarefa que me expõe agora à pancadaria de “amigos”, escreveu Dalai.

Em 2015 o estatuto do Cruzeiro foi alterado e já passava a vedar a possibilidade de conselheiros serem remunerados pelo clube. Detalhe que na gestão de Gilvan de Pinho Tavares, presidente à época, foi respeitada. Algo que não aconteceu durante o período em que Wagner Pires de Sá presidiu o clube.

Na administração Gilvan de Pinho Tavares a norma foi rigorosamente observada. A administração Wagner Pires, que veio em seguida, sistematicamente ignorou essa proibição estatutária, sob o equivocado entendimento de que poderia, sim, remunerar o Conselheiro como pessoa jurídica (CNPJ)”, citou no artigo.

Leia o artigo publicado por José Dalai Rocha

“A LEI É PARA TODOS?

Assinei, no fim de semana, os atos mais difíceis de serem assinados, desde que assumi a presidência do Cruzeiro. Tratava-se de excluir dos quadros de Conselheiros e Natos todos aqueles que infringiram a expressa proibição contida no parágrafo terceiro do art. 18 do nosso Estatuto. Está redigido assim:

O Associado Conselheiro Nato e o Associado Conselheiro, contratado como empregado do Clube, perde o mandato e o suplente de Conselheiro será excluído do quadro de suplência.
De notar-se que o parágrafo não diz “pode perder”, ou “poderá perder”, ou “sujeita-se à perda”. A norma é cogente. Auto aplicável. Impositiva: PERDE MANDATO!

Desde o dia 21 de outubro de 2015, quando em Assembleia Geral este novo Estatuto foi aprovado, várias situações ocorreram em que Conselheiros optaram: perda do mandato, para assumir função remunerada, ou abdicando do salário para manter o status de Conselheiro.

Na administração Gilvan de Pinho Tavares a norma foi rigorosamente observada. Como a lei só retroage para beneficiar, nunca para punir, foram mantidos nos cargos remunerados Conselheiros que lá estavam antes do novo Estatuto, como Nelio Lopes, Aristoteles de Paula Loredo (Tote), Fernando de Souza, Ercilio Silva Ferreira e outros.

Então, Primeiro Secretário do Conselho Deliberativos, na época, rechacei com firmeza todas as muitas tentativas chegadas a mim por aqueles que visavam afastar esses conselheiros, sempre explicando que as novas normais estatuárias não os atingiam.

A administração Wagner Pires, que veio em seguida, sistematicamente ignorou essa proibição estatutária, sob o equivocado entendimento de que poderia, sim, remunerar o Conselheiro como pessoa jurídica (CNPJ). Inúmeras alertas e notificações foram feitas pelo Conselho Deliberativo, na presidência de Zezé Perrella, para que o Conselheiro optasse entre manter-se no cargo remunerado, perdendo o mandato, ou vice-versa. Poucos atenderam, compreendendo o rigor do Estatuto quanto a esta questão. Nomeado assessor remunerado por Zezé Perrella, Rogerio Nunes (Rogerinho) imediatamente abriu mão do mandato de conselheiro.

Conselheiros, antigos ocupantes de cargos remunerados, demitidos por Wagner Pires, e posteriormente readmitidos, passaram obviamente a ser alcançados pela proibição estatutária mas resolveram correr o risco.

Assim, cerca de 30 mantiveram-se na situação conflitante, vedada pelo Estatuto, afinal definida pelo Conselho de Ética e Disciplina, depois de ouvir cada um dos envolvidos. Em consequência, lavraram-se os atos de desligamento, agora assinados.

Dentre os que se encontravam nessa situação, um filho de ex-presidente do Cruzeiro, servidores admirados e vários amigos-irmãos. É exatamente o inegável prestigio de muitos deles e o estreito relacionamento com dirigentes, que vinham retardando a decisão final, provocando justas críticas de quem luta pela reconstrução do Clube.

Com os atos colocados à minha frente, para assinar, tive a percepção do quanto iria magoar amigos, “decepcionar” aqueles que acreditam serem as leis apenas para alguns, não para todos; ser acusado de “ingrato” pelos que, tendo me apoiado ou ajudado em alguma ocasião, julgaram-se licenciados para descumprir as disposições estatutárias, sem risco de punição. Para esses, obviamente, a lei só se aplica aos que estão fora do nosso círculo fechado de amigos. Ou contra aqueles que não têm poder de reação. Jamais contra poderosos.

Nunca soube viver assim. Juiz em Comarcas do interior e tendo dois filhos jovens, candidatos potenciais a farras e confusões, convidava o delegado de policia para um café na minha casa, apresentava os filhos e pedia um favor: em qualquer ocorrência que tivessem envolvidos, e se houvesse prisão, que fossem os primeiros a serem presos e os últimos a serem soltos. Nunca tive problemas com eles que cresceram cultivando valores inafastáveis de ética, de justiça, de respeito ao próximo, abominando privilégios e nepotismos.

Alguém perto de mim, quando das assinaturas, perguntou porque não excluía os atos “mais polêmicos”, para evitar “reação de gente poderosa”.

Ou assino todos, ou não assino nenhum, respondi enquanto concluía a dolorosa tarefa que me expõe agora à pancadaria de “amigos”.

José Dalai Rocha

Presidente interino do Cruzeiro Esporte Clube”

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