Por: João Victor Constantino
Após a eliminação do Fluminense na Copa do Mundo de Clubes, o atacante do Chelsea, Pedro Neto, disse que o adversário brasileiro mais difícil de enfrentar foi o Flamengo. O português tem como argumento o placar do jogo, uma derrota por 3 a 1 frente ao Rubro-Negro.
Com todos os brasileiros eliminados, já é possível fazer uma análise do desempenho dos clubes nesta primeira edição da competição.
O Botafogo não teve apenas uma eliminação melancólica, mas o fim de um trabalho que estava dando resultados. Venceu o atual campeão da Champions League, classificou-se no grupo da morte e, nas oitavas, em um duelo brasileiro, o Palmeiras era o adversário da vez. Após uma fase de grupos épica, a torcida do Glorioso aguardava uma postura confiante, ofensiva e letal. O técnico Renato Paiva optou por jogar um balde de água fria em toda a expectativa criada em torno do time. Em um jogo amarrado, lento e sem muitas ações, o treinador português montou o “ferrolho carioca” que superou o Paris Saint-Germain. O cemitério do futebol, onde estão enterrados muitos “favoritos”, colocou a sete palmos do chão um Glorioso, não por ser favorito, mas por não se propor a atacar diante de uma equipe do mesmo nível, o que culminou na demissão do mister.
Na fase de mata-mata, o Flamengo foi vítima do famoso “azar”. Um caminho árduo esperava o Rubro-Negro carioca, em uma chave composta por europeus de nível extraclasse. Coube aos bávaros a missão de enfrentar a equipe que derrotou um dos finalistas da competição. Sem suar a camisa, o Bayern de Munique logo abriu o placar, em um gol contra aos seis minutos que pegou desprevenido até mesmo o flamenguista mais pessimista. Apenas 180 segundos depois, o choque de realidade veio como um furacão: o inglês Harry Kane ampliou. Entre as oscilações do time alemão, o Mengão descontou, e o jogo acabou em 4 a 2. Apesar das mudanças questionáveis de Filipe Luís, pouca culpa tem o treinador; mesmo com um meio de campo escasso de boas oportunidades, enfrentou um colosso do futebol, que veio embalado em função de uma derrota inesperada para o Benfica.
O Palmeiras chegou para as quartas depois de uma fase de grupos questionável e um jogo sonolento contra o Fogão. Algoz de 2021, o Palestra reencontraria o Chelsea novamente em um Mundial de Clubes. O clube de Londres chegou para o jogo muito questionado após uma derrota na fase de grupos e uma classificação na “bacia das almas” sobre os Encarnados. Desfalcado, o Verdão entrou sem sua defesa titular. Apesar de necessário, as ausências pesaram na eliminação. O excepcional Abel Ferreira conseguiu trazer o jogo para o lado verde, com ajuda de talentos individuais, em destaque Estevão. O Palmeiras ameaçou uma reação, mas uma falha de Weverton sacramentou a derrota.
O único não europeu entre os semifinalistas, o Tricolor das Laranjeiras surpreendeu o mundo, passou com sobras pela Inter de Milão nas oitavas, pelo estrelado Al-Hilal nas quartas e teria pelo caminho o carrasco do Alviverde. João Pedro, cria de Xerém e recém-contratado dos ingleses, tornou empírica a “lei do ex”. Dois gols do brasileiro, um pênalti polêmico anulado para o Fluminense e um jogo sem grandes sustos: esse foi o resumo do Chelsea. Para o Fluzão, ficou evidente uma disparidade não somente financeira, mas técnica e tática. Jhon Arias, por exemplo, um dos melhores jogadores desta Copa, não teve uma atuação de brilho por conta da marcação cerrada do lateral Gusto. A diferença da média de idade dos dois clubes foi o reflexo não apenas do que se tornou o futebol europeu, mas de mentalidade e filosofia.
A fala de Pedro Neto retrata a impressão dos clubes europeus sobre os brasileiros. O Brasil ao passo que caminha para uma redução do abismo de nível técnico, mostra que nosso futebol é forte e competitivo, mas de derrotas e frustração vive o esporte. Mostraram que da para ir longe, mas para ser campeão, ainda tem um longo caminho a percorrer.