O cerrado, segundo maior bioma do Brasil, apresenta vasta biodiversidade, propiciando desde frutos para o consumo e a comercialização até uma grande quantidade de substâncias únicas capazes de trazer em suas estruturas químicas respostas para o tratamento de diferentes enfermidades. O conhecimento popular das plantas nativas deste bioma é reconhecidamente uma alternativa para o tratamento de doenças das comunidades que vivem nesta região e muitas vezes não têm alternativa de medicamento.
Um exemplo é o araticum, fruto do cerrado muito apreciado pela culinária popular, no preparo de doces, bolos e sorvetes, e utilizado na medicina tradicional para o tratamento de infecções. O que nem todos sabem é que, nas cascas do fruto que são descartadas, por não apresentar interesse econômico, estão contidos compostos importantes que podem ser utilizados no tratamento da doença de Alzheimer. É o que mostra o estudo da doutoranda Marília Fontes Barbosa, orientada pelo professor Marcos Pivatto.
A pesquisa é uma colaboração estabelecida pelo professor Pivatto, do Instituto de Química, com o professor Foued Salmen Espindola, do Instituto de Genética e Bioquímica, ambos da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Durante o estudo químico das cascas do fruto da Annona crassiflora, nome científico do araticum, Barbosa notou a presença de alcaloides aporfínicos, classe de compostos que já apresentou, em outros estudos, resultados promissores sobre uma enzima (acetilcolinestase), chave no tratamento da doença de Alzheimer. O estudo das cascas do fruto comprovou a importância dos seus compostos como modelos para o planejamento e o desenvolvimento de novos fármacos que poderão ser utilizados no tratamento de doenças relacionadas ao sistema nervoso central.
De acordo com Pivatto, o estudo busca trazer conhecimento científico sobre os usos populares e esclarecimento à população, principalmente para conhecer a rica biodiversidade da região em que vive e o seu uso na medicina tradicional. “Também almejamos que nossas pesquisas possam caminhar na direção do desenvolvimento de novos medicamentos, mas sabemos que o caminho é longo”. Além disso, os pesquisadores alertam que uso de chás ou preparos a base de plantas de forma indiscriminada não é uma prática recomendada, visto que elas podem conter substâncias nocivas à saúde. Assim, é preciso ter conhecimento, inclusive, para se recomendar o uso das ervas na medicina tradicional. O célebre pesquisador Paracelso já dizia que “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”.
Os cientistas da UFU agradecem as parcerias com outras universidades no processo de pesquisa e enfatizam que, se não fossem as colaborações, os projetos não seriam desenvolvidos. A pesquisa está em andamento, porém, a falta de recursos tem sido um entrave e, com isso, não há previsão para conclusão.
Comunica