O Ministério Público Federal (MPF) em Uberlândia já havia denunciado anteriormente o déficit de leitos para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) em Uberlândia. E os casos vivenciados recentemente por duas famílias da cidade retratam a natureza do problema.
O primeiro caso é o de Gessi Lebrão, que ficou vários dias internada na UAI do Bairro Planalto com pedras na vesícula. Suas filhas, Jaqueline e Larissa Lebrão, tentaram encontrar uma forma de realizar a transferência da mãe para o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) ou para o Hospital Municipal, mas encontraram muita dificuldade.
Já o segundo é o de Maria Aparecida Neves, que passou por situação semelhante na UAI do Bairro Tibery. Ela permaneceu vários dias internada no local com suspeita de pancreatite aguda e pesava apenas 50 kg. De acordo com sua irmã, Ana Maria Gonçalves, ela necessitava de uma transferência com urgência para algum hospital para realizar uma endoscopia, mas também enfrentou dificuldades.
O V9 entrou em contato com as famílias das duas pacientes. No caso de Gessi Lebrão, a paciente conseguiu sua transferência no dia 2 de agosto para o Hospital Municipal e já realizou a cirurgia que precisava, segundo uma de suas filhas.
Com relação à Maria Aparecida Neves, sua irmã informou que ela também conseguiu fazer a transferência para o mesmo hospital no dia 3 de agosto. Apesar de não ter realizado a endoscopia que necessitava, foi tratada e recebeu alta nesta terça-feira, 14.
Dados retratam o problema
Apenas três hospitais que oferecem leitos para os pacientes do SUS em Uberlândia: HC-UFU, o Hospital Municipal e um hospital particular, que atende apenas casos pediátricos. Na soma, todas as unidades possuem 767 leitos (incluindo UTIs), segundo dados da Prefeitura de Uberlândia. 40 a menos que os números divulgados pelo Ministério da Saúde.
E mesmo com o crescimento da população do município, esse número é 17% menor que o registrado em 2011, ainda de acordo com dados da Prefeitura de Uberlândia. Por conta desse déficit, o Ministério Público Estadual afirma que chega a receber cinco pedidos de transferência de pacientes todos os dias.
O promotor de Justiça de Defesa da Saúde, Lúcio Flávio de Faria Silva, lembra que as UAIs não foram criadas com o intuito de realizar internações.
“As UAIs foram construídas com outra finalidade, uma unidade de pronto atendimento. Mas nos últimos 20 anos, elas passaram a funcionar como mini hospitais. Pelas normas do conselho de medicina, não poderia ter ninguém internado nas UAIs, mas somos reféns dessa situação. Por que a maior carência que temos hoje em Uberlândia é a questão de leitos de UTI”, disse Silva.
Confira abaixo, na íntegra, uma nota enviada pela Prefeitura de Uberlândia sobre o assunto.
“A Prefeitura de Uberlândia informa que a saúde tem sido um dos setores mais afetados pela falta de repasses obrigatórios a Uberlândia por parte do governo de minas, com uma dívida que já ultrapassa os R$ 150 milhões. O problema é acentuado pela não realização de cirurgias no HC-UFU, que inclusive tem recusado pacientes vaga zero encaminhados pelas UAIs. O município está sobrecarregado e tem arcado sozinho com a manutenção dos serviços na rede em Uberlândia.”
Informações: Rodrigo Silva