A decisão do presidente Jair Bolsonaro de retirar os cerca de 2.500 radares das rodovias federais já surte efeito negativo para o país. Isso porque, no período entre 1º de janeiro e 31 de março deste ano houve uma redução de 4.152 acidentes – queda de 21% – em comparação com o mesmo período de 2018. Já entre 1º de abril e 31 de julho deste ano, ocorreram 824 acidentes a mais na comparação com o primeiro trimestre. Se a tendência do primeiro trimestre tivesse sido mantida, a estimativa era de que ocorresse perto de seis mil acidentes a menos, entre abril e julho.
O lado negativo não para por aí. Após o desligamento dos equipamentos, o número de mortes também cresceu. No primeiro trimestre, foram registradas 90 mortes a menos que no mesmo período de 2018. Já nos quatro meses subsequentes, de abril a julho, aumentaram 46 óbitos. Caso fosse mantida a tendência nos quatro meses posteriores, teríamos redução de 120 mortos. Por isso, podemos estimar que morreram 166 pessoas a mais. Os 120 que seriam poupados, mantida a média, mais os 46 que superaram os mortos de 2018.
A comparação entre o primeiro trimestre e os quatro meses posteriores de 2019 é ainda mais importante considerando o desligamento dos radares no período, segundo apurou o jornal O Globo com o DNIT. É a primeira vez desde 2011 que ocorre um aumento de acidentes nas rodovias federais.
Assim como ocorreu com as vítimas fatais, o número de feridos, considerando graves e leves, também mudou radicalmente. Foram 834 a menos no primeiro trimestre, portanto, média de queda de 278 por mês de 1º de janeiro até 31 de março de 2019.
Já entre abril e julho, foram 1.214 feridos a mais. Logo, a estimativa de redução de feridos, caso fosse mantida a mesma média mensal entre 1º de abril e 31 de julho registrada no primeiro trimestre, seria de 1.112, entre graves e leves.
Entretanto, houve aumento. Os 1.112 feridos que seriam evitados, mantida a curva de queda dos acidentes, somados aos 1.214 feridos a mais que tivemos nos quatro meses, indicam projeção de 2.326 feridos a mais.
Números que assustam
Enquanto no primeiro trimestre deste ano foram registradas 15.661 acidentes com 1.195 mortes e 18.608 feridos, sendo 4.175 graves e 14.433 leves; o período compreendido entre abril e julho registrou 22.152 acidente que resultaram em 1.805 mortes e 25.873 feridos, sendo 6.261 graves e 19.612 leves.
Esses números mostram que a ideia do presidente Bolsonaro não foi a mais sensata. Isso porque quando se trata de seres humanos, qualquer medida pode trazer consequências irreversíveis, como as que foram registradas.
Alerta do SOS Estradas
O programa SOS Estradas baseou-se em cálculos e projeções utilizando os dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para chegar à conclusão de que o governo federal se equivocou. Na avaliação do coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, o governo federal entrou na contramão. “No primeiro trimestre, os acidentes tinham queda de 21%, mostrando que o governo estava trabalhando bem. A decisão de desligar os radares, sem nenhuma fundamentação técnica, fez o governo entrar na contramão, em colisão com o bom senso”, diz.
Rizzotto lembra que o presidente Bolsonaro afirmou que caso estivesse equivocado iria voltar atrás. “Esperamos que ele faça isso. Afinal, não são estatísticas que estão em jogo, mas vidas humanas. Pessoas com nome e sobrenome, famílias que sofrem as consequências dessa carnificina. Infelizmente, os auxiliares do principal mandatário do país parecem inibidos de dizer ao chefe que ele está errado. Agora os números do próprio governo provam isso de forma eloquente. A partir de agora, ele está ciente do que está fazendo. Esperamos que o bom senso prevaleça. A violência no trânsito não escolhe classe social, nem preferência política e mata inocentes. E com a proibição da PRF usar os radares para fiscalizar a situação vai piorar”, ressalta.