Raspadores encontrados na Serra da Mesa (Foto: Arquivo dos pesquisadores)
Raspadores encontrados na Serra da Mesa (Foto: Arquivo dos pesquisadores)

As serras do município de Gurinhatã (MG) estão sendo pesquisadas, com o intuito de identificar e caracterizar os lugares onde existem vestígios de grupos humanos anteriores à colonização portuguesa, que são locais conhecidos cientificamente como sítios arqueológicos, e instrumentos de pedras cortantes, também chamados de pedras lascadas, que são os artefatos líticos.

Os estudos primários desses grupos são importantes para o conhecimento da história pré-colonial da região, como se deram as primeiras ocupações e o desenvolvimento humano. A pesquisa procura realizar uma análise integrada da paisagem a partir das concepções teóricas e metodológicas da Ciência Geográfica e da Arqueologia, na procura por fortalecer uma linha de pesquisa que vem sendo estudada por alguns geógrafos.

A pesquisa é realizada pelo técnico Antônio Cézar da Costa, do Departamento Municipal de Cultura do Município de Gurinhatã (MG), e pelo historiador Cláudio Scarparo Silva, aluno do curso de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Campus Pontal. Eles foram coordenados pela pesquisadora e professora Leda Correia Pedro Miyazaki, da UFU, que é coordenadora do Laboratório de Pedologia, Geomorfologia e Ensino de Geografia Fisica (LabPedogeo), também líder do Grupo de Pesquisa em Geomorfologia, Pedologia e Dinâmicas Ambientais (GEPDA).

No dia 4 de fevereiro de 2020, uma terça-feira, estivemos visitando as Serras da Mesa, da TV e do Morro Alto, onde estudamos as características geomorfológicas (relevo),  geológicas (rochas) e pedológicas (solos) das serras. Além disso, identificamos vários artefatos arqueológicos, que comprovam a passagem de grupos pré-coloniais que habitaram a região em épocas anteriores à presença portuguesa, na região.

A presença desses grupos é confirmada pela grande quantidade de artefatos líticos lascados (pedras lascadas), encontrados nas serras. Esses artefatos eram as ferramentas dos primitivos habitantes dessas terras. Com essas ferramentas, eles confeccionavam seus utensílios, cortavam as peças, as carnes para comida e sobreviviam ante uma paisagem que vem se transformando através dos séculos.

Plaina conhecida como lesma (Foto: Arquivo dos pesquisadores)
Plaina conhecida como lesma (Foto: Arquivo dos pesquisadores)

Um dos fatos relevantes dessa pesquisa é que não são encontrados outros vestígios, como pedaços de panelas de barro, nos lugares onde são achados os artefatos de pedra, ou seja não há incidência de material cerâmico nos sítios arqueológicos encontrados. Isso leva a crer que se tratam de grupos caçadores e coletores, que existiram antes dos grupos sedentários e ceramistas, que praticavam a agricultura, plantavam, colhiam e guardavam as sementes em potes de barro (cerâmica). Esses grupos caçadores e coletores não dominavam a agricultura e viviam, principalmente, da caça e da pesca.

Estamos, também, desenvolvendo um diagnóstico dessas serras, incluindo o mapeamento, a análise do solo e a identificação de rochas, e também coletando uma série de informações geográficas/arqueológicas da paisagem do município. Esses estudos estão sendo feitos no Laboratório Pedogeo, no Campus Pontal da UFU.

O município de Gurinhatã está colaborando com a pesquisa, cujo resultado será aproveitado no inventário de bens culturais e naturais para a preservação e para o aumento de pontuação no ICMS Patrimônio Cultural, além de colher informações para a formulação de políticas públicas para o desenvolvimento turístico da região.

Entre as descobertas do trabalho de campo na Serra da Mesa estão os artefatos líticos, como os raspadores, e uma ferramenta côncava, cortante, que servia para nivelamento de superfície, como uma plaina, conhecida como lesma, devido ao seu formato côncavo. Eles são de grande importância para os conhecimentos do tipo de técnica que os grupos usavam para confeccionar os seus materiais.

 

*Leda Correia Pedro Miyazaki é professora do Instituto de Ciências Humanas do Pontal. Cláudio Scarparo Silva é aluno de mestrado em Geografia. Ambos são da UFU.

UFU

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