No último ano, R$ 75 milhões foram aplicados na aquisição de 62 mamógrafos digitais para 45 municípios mineiros

O mês de outubro marca o movimento de conscientização para o controle do câncer de mama, o mais incidente em mulheres em todo o país, excluídos os tumores de pele não melanoma. Para permitir um rastreio efetivo dos casos, o Governo de Minas vem investindo na modernização do parque tecnológico de mamógrafos públicos no estado. 

De julho de 2023 para cá, cerca de R$75 milhões já foram repassados a 45 municípios para a aquisição de 62 equipamentos digitais, que vão substituir os aparelhos analógicos em 60 instituições hospitalares. Embora os mamógrafos convencionais sejam confiáveis para o diagnóstico, um equipamento digital otimiza a qualidade e o armazenamento das imagens.

De acordo com a secretária de Estado Adjunta de Saúde, Poliana Cardoso Lopes, a oncologia foi definida como área prioritária no planejamento da Secretaria de Estado de Saúde (SES) também para os próximos anos, com enfoque no fortalecimento das linhas de cuidado, desde a promoção à saúde até o tratamento. 

Jornada da paciente

“Minas Gerais está buscando garantir que a jornada da paciente seja algo mais simples e que funcione muito bem. Isso porque, para o tratamento do câncer, o tempo é algo primordial”, destaca. 

“O câncer de mama e o câncer de colo de útero são os que mais acometem mulheres e, por isso, estamos trabalhando para que elas tenham mais facilidades para realizar exames de rastreamento e de diagnóstico e para iniciar o tratamento o mais breve possível, além de garantir que a disponibilidade dos exames esteja suficiente lá na ponta”, afirma.

Após a substituição dos equipamentos analógicos, profissionais dos serviços radiológicos estão sendo treinados para operar os novos aparelhos. O primeiro treinamento, em Belo Horizonte, foi realizado de 24 a 27/9, por meio de parceria entre a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), o Conselho Regional de Técnicas em Radiologia de Minas Gerais (CRTR3) e o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

Diagnóstico
 

A mamografia é a principal aliada das mulheres no rastreio e diagnóstico precoce do câncer de mama. Como o exame revela a presença de tumores malignos em estágios ainda assintomáticos, permite que o tratamento seja iniciado imediatamente, salvando muitas vidas. 

A solicitação do exame deve ser feita pelo profissional das Unidades Básicas de Saúde (UBS) durante a consulta de rotina ou em estratégias de busca ativa de mulheres, como a visita domiciliar. 

O exame de mamografia realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) inclui a mamografia de rastreamento (indicada para mulheres de 50 a 69 anos, sem sinais e sintomas de câncer de mama, a cada dois anos) e a mamografia diagnóstica (indicada para avaliar lesões mamárias suspeitas, em qualquer idade e também em homens). Em mulheres com histórico familiar ou histórico pessoal de câncer de mama, é necessário fazer avaliação e acompanhamento individualizado.

Até o mês de julho de 2024 já foram realizadas 212.538 mamografias de rastreamento e 33.308 de diagnóstico em Minas. A expectativa é a de superar o número de exames feitos em 2023, 410.003 e 62.607, respectivamente. 

Tratamento

Após realizar a mamografia, a paciente é encaminhada, se necessário, para realizar novos exames e dar início ao tratamento na rede especializada. 

O tratamento do câncer de mama deve ser realizado em estabelecimentos de saúde habilitados como Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) ou Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon).  

Os pacientes têm acesso à radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e tratamento com anticorpos, e cirurgias, como mastectomias, cirurgias conservadoras e reconstrução mamária. 

Serviço regionalizado

Atualmente, em Minas Gerais quase todas as macrorregiões do estado possuem serviço de alta complexidade em oncologia. 

A regionalização de serviços de alta complexidade deve seguir os princípios de escala e escopo para que possam oferecer assistência de maior qualidade. 

Além disso, existem os serviços de extensão de quimioterapia que possuem abrangência microrregional para evitar o deslocamento excessivo dos pacientes que realizam essa modalidade de tratamento.

Trajetória para a cura
 

Marcilene Rosa Barbosa, 42 anos, recebeu o diagnóstico de câncer de mama no final de 2020. Agente comunitária de saúde que mora em Belo Horizonte, ela conta que, ao apalpar a mama, percebeu um nódulo e procurou imediatamente o atendimento médico. Após um ultrassom, foi encaminhada para a mastologista, que solicitou mamografia e, então, biópsia. 

Com os resultados, Marcilene foi encaminhada para a cirurgia. “No começo de 2021 eu já fiz a retirada do nódulo e fui encaminhada para o oncologista. Então ele me propôs fazer radioterapia e depois o uso da medicação, que são os bloqueadores hormonais”, relata.  

“O importante é buscar descobrir no início, entendeu? Fazer o autoexame e, se tiver dúvida, procurar uma assistência médica para conseguir tratar isso o mais rápido possível. Porque quando você descobre no início a chance de cura é muito grande”, ressalta Marcilene. 

A agente comunitária de saúde também fez um alerta. “Hoje as mulheres não fazem o autoexame. Têm que fazer porque é muito importante. E, se perceber qualquer coisinha, tem que buscar logo o atendimento para verificar”, conclui.

Cuidado humanizado

O Hospital Alberto Cavalcanti (HAC), que integra o Complexo de Especialidades da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), é a principal referência em oncologia na rede pública estadual.

Credenciado como Unacon, o HAC oferece ao usuário assistência integral – diagnóstico, tratamentos quimioterápicos, consultas ambulatoriais, cirurgias, terapias, orientações nutricionais e cuidados paliativos. O hospital, inclusive, possui o sistema de “navegação”, que acompanha todas as etapas dos pacientes – desde a entrada até o momento da alta na unidade.

As pacientes assistidas no tratamento ao câncer de mama também têm acesso à equipe multidisciplinar, fundamental para dar apoio a necessidades específicas. A assistente social, por exemplo, orienta quanto aos direitos dos pacientes oncológicos, o suporte logístico junto às Secretarias Municipais e UBS no estado, faz o encaminhamento às redes de apoio (quando necessário), além de auxiliar nas questões sociais que impactam diretamente no tratamento do câncer.

Reabilitação

A fisioterapia e a terapia ocupacional atuam no restabelecimento das funções motoras pós-cirúrgicas para retomada das atividades cotidianas. A psicologia dá o suporte necessário para o enfrentamento à doença, ajudando a superar momentos difíceis como a perda de cabelo, entre tantos outros estigmas. Já as nutricionistas buscam fortalecer o sistema imunológico, orientando e acompanhando a alimentação das pacientes.

Além das atividades conhecidas, a equipe de Cuidados Paliativos promove práticas que visam melhorar a qualidade e garantir maior autonomia para a vida cotidiana. São cuidados associados ao tratamento, objetivando a cura da doença, assumindo um papel importante no manejo dos sintomas de difícil controle e na melhoria das condições clínicas dessas pacientes.

A retirada da mama causa impactos psicológicos e físicos. Para o sucesso do tratamento do câncer, não basta o avanço de técnicas cirúrgicas – como a reconstrução de mama, prática constante no Sistema Único de Saúde. Outros cuidados, humanizados, proporcionam melhorias na autoestima, conforto e bem-estar das pacientes. O serviço oferece estúdio de perucas, próteses mamárias provisórias, além de batons, brincos e demais acessórios para o embelezamento dessa mulher.

Balanço

Em 2023, o HAC realizou 3.314 consultas mastológicas, 3.095 sessões de quimioterapia, 160 procedimentos cirúrgicos, 157 reconstruções mamárias e 1,9 mil atendimentos realizados pela equipe multidisciplinar às pacientes com câncer de mama. Também foram realizados 2.240 exames para diagnóstico (biópsias, ultrassonografias e mamografias).

Este ano, até agosto, foram 2.262 consultas, 2.201 sessões de quimioterapia, 123 cirurgias, 146 reconstruções mamárias, 920 atendimentos multidisciplinares e 1.418 exames para diagnóstico.

Painel

Dados do Painel de Monitoramento do Tratamento Oncológico do Ministério da Saúde apontam que, em 2024 (até setembro), foram identificados 3.187 novos casos de câncer de mama no estado. Em 2023, foram 7.666 e, em 2022, 1.945. Em relação aos óbitos causados pela doença, foram 1.064, em 2024; 1.827, em 2023; e 1.808 em 2022. 

Agência Minas