A Justiça Federal em Minas Gerais proferiu uma sentença que condena 14 indivíduos por envolvimento em uma sofisticada organização de lavagem de dinheiro, que movimentou mais de meio bilhão de reais oriundos do tráfico internacional de drogas. O grupo mantinha conexões transnacionais, incluindo o Primeiro Comando da Capital (PCC), as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e, surpreendentemente, fornecia cocaína para os violentos cartéis mexicanos de Sinaloa e Los Zetas.

As penas aplicadas na sentença, que é resultado da Operação Terra Fértil, deflagrada em julho de 2024; variam de 8 a 21 anos de prisão. Além das condenações criminais, os réus foram sentenciados a reparar os danos no valor de R$ 508 milhões, com o bloqueio de bens de luxo, como aeronaves, imóveis e veículos, em favor da União.

O desmantelamento da complexa rede criminosa começou com uma pista local: a compra de uma mansão avaliada em R$ 2,5 milhões em um condomínio de luxo em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Este imóvel tornou-se o ponto central para a Polícia Federal (PF) desvendar a estrutura.

Os líderes do esquema, Ronald Roland e Carlos Gabriel Bohn Frohlich, receberam as maiores penas, de 21 anos de reclusão cada um. Roland é conhecido das autoridades por seu histórico como mega-traficante, responsável por enviar toneladas de cocaína via aérea para as Américas.

A denúncia do Ministério Público Federal (MPF) reforçou a escala transnacional do grupo, que operou ativamente entre abril de 2019 e julho de 2024. A organização usava uma “teia corporativa complexa e propositalmente confusa” para ocultar os lucros ilícitos, utilizando empresas de fachada em Uberlândia e Foz do Iguaçu, com objetos sociais formais (como comércio de alimentos ou agropecuária) que movimentavam cifras milionárias incompatíveis; e conexões internacionais por meio de diálogos em celulares apreendidos revelaram contato com interlocutores na Colômbia, em Bogotá e La Gabarra, regiões ligadas à produção de cocaína e atuação das FARC.

A sentença destacou a capilaridade da organização, que mantinha “conexão direta” com o PCC. Provas periciais mostraram que o grupo se envolvia em cobranças de dívidas do tráfico, com Roland citando o envolvimento da facção até em sequestros. Um dos réus chegou a ser vítima de sequestro pelo próprio PCC para a cobrança de débitos.

Um dos pontos mais chocantes da decisão é o elo com crimes violentos: parte do dinheiro do resgate da advogada Anic Herdy, sequestrada e morta no Rio de Janeiro, foi canalizada através das contas das empresas de fachada do grupo, como a “Truck” e a “RBS Agropecuária”.

O MPF detalhou que a organização era “notavelmente estruturada” e dividida em núcleos, facilitando a lavagem de capitais. Entre os condenados do núcleo gerencial, um policial penal teve a perda do cargo público decretada. Os réus ainda podem recorrer da decisão.