Casos foram flagrados no Hospital Heliópolis, em São Paulo; profissionais praticam atividade física e vão a “sacolão” durante o expediente

Uma investigação do jornalismo do SBT revelou imagens de médicos flagrados registrando o ponto e deixando o local sem cumprir a jornada de trabalho em um dos maiores hospitais públicos de São Paulo.

Um dos médicos, que recebe quase R$ 20 mil por mês, foi visto fazendo compras no mercado durante o horário de atendimento. Outro profissional foi registrado saindo para praticar corrida, logo após marcar a entrada no relógio de ponto, com direito até a alongamento a poucos metros do equipamento.

As imagens mostram a rotina dos médicos no Hospital Estadual de Heliópolis, onde a população enfrenta longas esperas para consultas. Um urologista, Lawrence Aseba Tipo, chegou ao hospital às 5h20 da manhã, mas sua prática real não condiz com a carga horária estipulada. Após marcar o ponto, ele saiu para correr e, mais tarde, voltou para atender alguns pacientes antes de ir embora, sem cumprir a carga de trabalho.

Tipo trabalha em sete locais diferentes, sendo cinco públicos, segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde. De acordo com o governo paulista, ele recebe R$ 5.394,01, segundo o Portal da Transparência. Ele deveria trabalhar às segundas e quintas-feiras, das 7h às 19h. A “corridinha” é feita, às vezes, em volta do prédio do hospital, enquanto pacientes aguardam atendimento. Abordado pela reportagem, o médico não respondeu às perguntas e…saiu correndo.

Funcionários

Funcionários que não quiseram se identificar por medo de perseguição, afirmaram que com a substituição do ponto digital pelo físico, a situação melhoraria. “Foram instaladas câmeras, tudo, mas, continua. De todas as especialidades, noventa por cento dos médicos fazem isso. Agenda para consulta é uma espera de seis meses para o paciente”, diz um trabalhador.

Foi comprar frutas

Outro médico, o cardiologista Fúlvio Alessandro de Oliveira Souza, também foi flagrado batendo o ponto e saindo do hospital após duas horas de trabalho, alegando atender a compromissos pessoais. Enquanto isso, pacientes aguardam meses por consultas.

Souza, segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde, trabalha em quatro unidades, sendo o de Heliópolis o único público. Seriam 61 horas semanais de trabalho no local, mais de 12 horas por dia, de segunda a sexta. Em Heliópolis são 20 horas semanais e recebe, do governo paulista, R$ 19.429,79, de acordo com o Portal da Transparência.

O cardiologista deveria trabalhar no hospital três vezes por semana: às terças, das 14h às 18h e, às quintas e sextas, das 8h às 18h. Na vida real, porém, ele fica fora do hospital: leva o filho à escola, vai ao sacolão para comprar frutas e, depois, volta ao centro médico para bater o ponto.

Funcionários relataram que essa prática não é isolada e que a maioria dos médicos em diversas especialidades agem da mesma forma, agravando a crise na saúde pública.

A reportagem tentou contato no celular do cardiologista, mas ninguém respondeu. No momento da ligação, os médicos já sabiam da presença da equipe no Hospital Heliópolis.

A falta de médicos também causa transtornos para os residentes, recém-formados que atendem os pacientes, mas sempre com a supervisão de um médico especialista. “O fato de eu não ter, às vezes, algum auxílio, faz com que a gente possa cometer algum erro ou outro e a gente tá lá, porque a gente quer minimizar isso, a gente não quer cometer esse tipo de erro e muitas vezes não tem ninguém ali pra me orientar”, relata um residente.

Além da ausência de quem recebe salário e não trabalha, há outro problema: a falta de recursos e equipamentos. O SBT entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde, mas não obteve retorno.

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