Ver o nome na lista de aprovados no vestibular é o desejo da maioria dos jovens que concluem o ensino médio. Ser o primeiro colocado no curso escolhido, então, chega a ser sonho. Lucas Pires*, 18 anos, sabe bem como são as duas sensações.
O jovem, que cumpre medida no Centro Socioeducativo de Uberaba há cerca de um ano, se preparou para o vestibular dentro da unidade de internação e foi aprovado em primeiro lugar no curso superior de Educação Física de instituição de ensino privada na cidade.
Lucas* faz questão de ressaltar que sempre quis cursar Educação Física para ser professor. E o incentivo recebido na unidade, destaca, foi fundamental para a concretização desse passo para o futuro.
O pedagogo do Centro Socioeducativo de Uberaba, Yuri Nascimento, acompanhou Lucas* de perto e diz que ele se esforçou muito ao longo do ano letivo. “Fico muito satisfeito de ter contribuído para a realização dessa oportunidade que pode mudar a vida desse jovem”.
Lucas é o segundo caso de sucesso na unidade. Ano passado, outro jovem que cumpria medida, passou no vestibular para o curso de Engenharia Elétrica em outra instituição de ensino privada da cidade.
O subsecretário de Atendimento Socioeducativo da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), Danilo Emanuel Salas, destaca a importância de resultados como esse para valorização do trabalho educativo desenvolvido pelas unidades de internação e semiliberdade. No ano passado, por exemplo, 93% dos jovens internados frequentaram a escola durante cumprimento de medida e Minas foi o estado com mais inscritos para o Enem Socioeducativo. “Educando ficamos mais próximos de um ser humano justo, perfeito e feliz”, ressaltou Danilo.
A escola no socioeducativo
Os cerca de 2 mil adolescentes que cumprem medidas socioeducativas nas unidades de Minas estudam de acordo com as novas diretrizes pedagógicas pensadas exclusivamente para jovens que se encontram privados de liberdade.
Uma parceria entre a Secretaria de Estado de Educação (SEE) e a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) busca reduzir a distorção idade/ano escolar que atinge quase 100% dos adolescentes que chegam às unidades socioeducativas com a implantação do programa curricular Aceleração do Socioeducativo.
Aproximadamente 20% dos adolescentes que dão entrada no sistema socioeducativo apresentam média de quatro anos de distorção entre a idade e ano em que se encontram matriculados.
Além disso, quando estes adolescentes chegam para o cumprimento das medidas, geralmente não possuem vínculo com a escola e encontram-se evadidos. Portanto, um dos maiores desafios da educação destes jovens é justamente diminuir essa distorção e, consequentemente, a defasagem do conhecimento.
Em 2017 os adolescentes em cumprimento de internação provisória passaram a ser efetivamente matriculados no sistema da Secretaria de Educação, o que não acontecia anteriormente. Até 2016, os adolescentes provisórios – que são aqueles que cometeram atos infracionais e aguardam sentença nas unidades socioeducativas – recebiam atendimento educacional, mas não eram matriculados.
A partir deste ano eles já entram no sistema educativo como estudantes formais, matriculados, e trabalham em projetos curtos de aprendizagem, independente do período da internação provisória.
Para isso, a nova diretriz do currículo da Aceleração do Socioeducativo propõe trabalho interdisciplinar com metodologia específica para o atendimento das características do adolescente privado de liberdade, mais flexível e com foco nas necessidades de aprendizagem deste jovem.
*Nome fictício