Onze pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil por contaminação de cervejas da Backer. Pelo menos 42 pessoas foram intoxicadas e sete morreram. De acordo com o inquérito, o problema aconteceu dentro da empresa mineira. Por isso, os delegados responsáveis pelas investigações responsabilizaram funcionários da cervejaria pelos crimes de homicídio culposo – quando não há a intenção de matar – de lesão corporal culposa, intoxicação dolosa, omissão e falso testemunho.
Agora, o inquérito será remetido para o Ministério Público, que irá analisar o documento e, posteriormente, remeter à Justiça. O resultado da apuração, que durou pouco mais de cinco meses, foi apresentado na manhã desta terça-feira (9).
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De acordo com o delegado Flávio Grossi, os investigadores constataram que a contaminação da cerveja ocorreu dentro dos portões da Backer. “Encontramos vazamentos no tanque, jogando o líquido tóxico para dentro da cerveja”, explicou. Além dos sete óbitos, diversos clientes da cervejaria continuam com sequelas graves por causa do envenenamento.
Procurada pela reportagem, a Backer informou que irá honrar com suas responsabilidades junto à Justiça, às vítimas e aos consumidores. “Sobre o inquérito policial, tão logo os advogados analisarem o relatório, a empresa se posicionará publicamente”.
Indiciamento
A polícia apresentou a conclusão do caso, mas não revelou os nomes dos indiciados. Informou, apenas, que seis técnicos que seriam responsáveis pela garantia da qualidade da cerveja foram indiciados por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação dolosa.
O núcleo gestor da empresa foi indicado por expor e vender o produto contaminação, mesmo com determinação contrária do Ministério da Agricultura, e por dar publicidade a um produto que causa risco à saúde. Os dois crimes são dolosos.
Além disso, a polícia pediu que uma testemunha responda por falso testemunho e omissão.
Contaminação
A investigação apontou que a substância química dietilenoglicol (DEG) estava presente na fábrica desde 2018. Logo que o caso da intoxicação veio à tona, a Backer garantiu que não trabalhava como o produto, somente com o monotietilenoglicol. No entanto, as duas substâncias foram apreendidas na empresa.
A Polícia Civil avalia que não faz diferença de como o DEG foi parar dentro na cervejaria – se a Backer comprou ou se foi trocado pelo fornecedor. “Não faz diferença porque os dois produtos são tóxicos”, disse Grossi.
O inquérito também apontou que desde, o início de 2019, havia alto índice de contaminação em um dos lotes da empresa. O médico-legista Thales Bittencourt informou que o nível de toxidade era tão grande que uma única garrafa era capaz de matar uma pessoa.
Para concluir o inquérito, que tem cerca de 4 mil páginas, uma equipe multidisplinar – composta por policiais, engenheiros e químicos – foi montada. Cerca de 70 pessoas prestaram depoimento, sendo vítimas sobreviventes, suspeitos e testemunhas.
Interdição
A fábrica da Backer foi fechada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A pasta também fez diversos exames e constatou substâncias tóxicas em dezenas de lotes de cervejas da empresa mineira.
Todas as bebidas da marca foram retiradas de circulação. Além disso, a Justiça determinou que a Backer pague os tratamentos médicos e psicológicos das vítimas e familiares e bloqueou bens da cervejaria.
De acordo com a Associação das Vítimas da Backer, até o momento, ninguém recebeu assistência financeira da cervejaria para cobrir as despesas com os tratamentos médicos. Apenas um dos pacientes teve custeio emergencial por dois meses, que foi interrompido no início de maio.
A Backer alega que está com os bens bloqueados e, por isso, não tem recursos para arcar com os custos de auxílio às supostas vítimas. A cervejaria ainda espera uma decisão judicial sobre a possibilidade de venda do estoque de cerveja – 240 mil litros de bebida envasados – para que esses valores sejam repassados.
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