Os graus de endividamento e inadimplência dos brasileiros atingiram os patamares mais altos dos últimos dez anos em agosto. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), 67,5% das famílias tinha contas a pagar e, dessas, 26,7% estavam com compromissos em atraso. Por outro lado, o mês também marcou alta, após seis quedas seguidas em relação a 2019, do Indicador de Demanda do Consumidor por Crédito da Serasa Experian: ele foi 0,7% superior ao de um ano atrás. Seria isso um indicativo de que as pessoas cavam mais fundo o buraco em que já estão?
Para economistas ouvidos pelo Hoje em Dia, não necessariamente. A explicação para o aumento da busca por crédito, mesmo por aqueles que já estariam atolados em compromissos, viria atrelada, paradoxalmente, à melhora do cenário econômico, passado o sufoco dos primeiros meses da pandemia. Parte dos consumidores estaria tentando recuperar o poder de compra após a perda de renda no início da crise da Covid. Outra parte, maior que a primeira, desejaria renegociar dívidas caras por meio de novos créditos obtidos de forma mais barata – valendo-se da última queda da Selic, para 2% ao ano. Por fim, haveria ainda os que tomam empréstimos para investir em ativos como os imóveis.
“Esse avanço (na tomada de empréstimos) é muito importante e significa que o pior já passou. Estamos retornando aos níveis anteriores a essa crise. As pessoas estão buscando crédito para renegociar dívidas e para investir, como, por exemplo, em imóveis. Com a queda da taxa de juros, elas não só querem renegociar dívida, como também buscam melhores opções de investimentos e, nesse sentido, a aquisição de imóvel se torna uma boa opção”, avalia o economista da Serasa, Luiz Rabi.
A analista de economia da Fecomércio-MG, Bárbara Guimarães, concorda com a avaliação de Rabi. Mas lembra que o altíssimo grau de endividamento e de inadimplência das famílias também é fruto de incertezas em um momento “ainda muito delicado”. “Diante de um cenário ainda sem definições sobre a pandemia, a percepção é de que a maioria das pessoas busca crédito para pagar outros compromissos ou para garantir itens essenciais, como os de alimentação, saúde, remédios e outras despesas domésticas”, afirma ela.
Percentuais de devedores e inadimplentes na capital mineira superam os da média nacional
O endividamento e a inadimplência na capital mineira estão em níveis piores que os da média brasileira. Em agosto, na última análise realizada pela Fecomércio-MG, com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o índice de inadimplência fechou em 39,4%, uma redução de 2,2 pontos percentuais em relação ao mês de julho (41,6%).
Ainda assim, a percepção se manteve: a cada dez famílias belo-horizontinas com dívidas, quatro estavam com parte dos compromissos em atraso. Em relação ao endividamento, o índice também recuou: de 81,2%, em julho, para 77,7%, no mês passado.
De acordo com a economista Bárbara Guimarães, a principal modalidade de dívida em BH continuava sendo o cartão de crédito (80,9%), sendo que o índice era ainda maior entre as famílias com mais de dez salários mínimos (91,7%). Em seguida, apareciam os carnês (16,6%), o crédito pessoal (9,5%), financiamento de carro (9,4%), o crédito consignado (9,3%) e o cheque especial (7,3%).
“Um ponto importante é que a maioria das famílias em situação de inadimplência na cidade encontra-se na faixa de renda inferior a dez salários mínimos”, ressalta a economista. “Isso reforça a tese de que, ao recorrer a novos créditos, como indicado pelos dados da Serasa Experian, muitas dessas pessoas não estariam pensando em ampliar consumo ou fazer investimentos, por exemplo. Estariam de fato buscando formas de quitar compromissos anteriores ou de comprar itens essenciais”, conclui
Hoje em Dia