No último dia 29/08, o IBGE tornou públicos os dados do PIB referente ao 2° trimestre deste ano. O dado levemente melhor do que o esperado pelas sondagens de mercado, que se ocupam de fazer previsões acerca do assunto, deve ser celebrado, porém com cautela. Na comparação do 2° trimestre em relação ao 1° trimestre de 2019, o crescimento foi de 0,4%. Já no que se refere à comparação ante igual período do ano anterior viu-se um crescimento de 1%. Os resultados seriam ótimos se não fossem comparados à momentos de desempenho tão ruins de nossa economia. No primeiro trimestre deste ano, o crescimento se deu sobre um recuo, já na comparação com o 2° tri de 2018, o resultado apresentado torna-se distorcido em função da existência de uma greve de caminhoneiros de derrubou a atividade naquele período, por esta razão, um desempenho melhor este ano é absolutamente compreensível.

Melhor do que o dado em si, são as implicações qualitativas do crescimento apresentado no segundo trimestre. Pelo lado da oferta, ao contrário dos anos anteriores cujo PIB foi salvo por super safras agrícolas, desta vez os dados demonstram uma ligeira recuperação da indústria de transformação (0,7%). Isto porque o setor da manufatura apresenta retornos crescentes de escala, além de criar efeitos spillovers de produtividade nos demais setores da economia, elevando assim seu potencial de crescimento (KALDOR, 1966). Em paper recente assinado em coautoria com meu amigo Prof Guilherme Jonas Costa da Silva (PPGE – UFU), e que será apresentado em Setembro no Encontro Nacional de Economia Industrial e em Outubro no Congresso Brasileiro de Economia, estimamos que o emprego criado na indústria de transformação, contribui para o crescimento do PIB de forma três vezes mais intensa do que o emprego do setor de serviços.

Já pelo lado da demanda, o que se viu foi uma recuperação muito mais pautada pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF), isto é, o investimento que se expandiu sobre bases de 3,2% frente ao primeiro tri, e de 5,2% sobre igual período de 2018. Com isto, a participação da FBKF no PIB apresentou uma leve recuperação, fechando em 15,9%. Novamente, é preciso salientar que estes números se deram diante de bases ridiculamente fracas de comparação, no entanto, a recuperação do investimento pode estar se dando principalmente pela tendência de queda na taxa nominal de juros, que deverá chegar em dezembro de 2019 em torno de 5% ao ano. É preciso salientar ainda, que há um fator limitante para a recuperação efetiva dos investimentos, a poupança como proporção do PIB, segue estagnada em torno de 15,2%.

Isto indica que recuperações posteriores do investimento, só poderão se dar com absorção de poupança externa, e consequentemente, pressões sobre a taxa de câmbio. Isto evidentemente preocupa num cenário internacional incerto, caracterizado por uma guerra comercial sem sentido entre a primeira e a segunda maiores economias do mundo, e o cenário eleitoral desfavorável na Argentina, o terceiro maior parceiro comercial, e o maior comprador da indústria brasileira. Sob esta perspectiva, as exportações brasileiras recuaram 1,6% frente ao primeiro tri, e as importações cresceram 1% no mesmo período. A boa notícia com relação a estes dados, é que os itens importados da nossa pauta, foram predominantemente máquinas, equipamentos e material elétrico, o que pode indicar uma tendência à modernização de nosso parque industrial.

O crescimento de 0,4% deve ser celebrado, se esperava crescimento negativo e uma eventual recessão técnica com consequências não desprezíveis sobre as expectativas. Por enquanto, o país mantém seu Estado de baixo crescimento e de recuperação lenta, que embora não seja ideal é melhor do que nenhuma recuperação. Reformas estruturantes se fazem necessárias neste cenário, abertura comercial, marco regulatório adequado para a infraestrutura, educação de melhor qualidade, segurança jurídica, melhor alocação das despesas públicas, somado a uma reforma tributária que torne racional nosso sistema, diminuindo não os impostos, mas a complexidade e seus efeitos distorcivos sobre o crescimento, são necessárias e inadiáveis.

Benito Salomão
Mestre e Doutorando em Economia pela Universidade Federal de Uberlândia
www.benitosalomao.com.br

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