Participantes de seminário da Assembleia Legislativa destacam ferramentas para região enfrentar desafio de adaptar agronegócio a mudanças extremas do clima

A crise climática está na agenda mundial e, situadas numa das principais áreas de produção agrícola no Brasil, as regiões Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba encaram o desafio de se adaptar à ampliação da estação seca e a inundações cada vez mais frequentes, preservando o bioma do Cerrado sem prejudicar sua economia baseada no agronegócio.


Esse foi o cenário apontado por pesquisadores e ambientalistas reunidos em Uberlândia para o sexto encontro regional do Seminário Técnico Crise Climática em Minas Gerais: Desafios na Convivência com a Seca e a Chuva Extrema, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).


Com sete encontros regionais e uma etapa estadual, o seminário tem como objetivo buscar soluções capazes de minimizar, em Minas Gerais, os impactos das mudanças climáticas provocadas pela ação humana. Uma das sugestões saídas do encontro sediado em Uberlândia é que o Triângulo Mineiro possa contar com um radar metereológico, cuja aquisição poderia gerar previsões climáticas mais assertivas, além de maior estímulo no campo das novas tecnologias.


No encontro em Uberlândia foi destacado que o Brasil teve no ano passado sua pior estiagem dos últimos 33 anos no Brasil, afetando diretamente pessoas mais vulneráveis e impondo severas dificuldades ao produtor rural na geração de emprego e renda no Triângulo e Alto Paranaíba.


Estiagem maior e chuvas concentradas afetam região


Conforme especialistas convidados a traçar o diagnóstico climatológico regional, a ampliação do período de estiagem é uma das tendências mais fortes. Se no passado a estação chuvosa começava em outubro, hoje ela tende, cada vez mais, a se iniciar apenas em novembro.

Seminário destaca estudos e boas práticas para convivência com a seca e a chuva extrema – Crédito: Alexandre Netto


As chuvas que antes se distribuíam até março, agora caem de forma cada vez mais concentrada, muitas vezes inundando vias públicas como a Avenida Rondon Pacheco, uma das principais de Uberlândia. Esse cenário foi resumido pelo professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e doutor em geografia Paulo Cezar Mendes, e pelo também doutor em geografia pela UFU Rildo Aparecido Costa. Para ambos, a tecnologia é uma arma que precisa ser reforçada na região para combater os perigos da crise climática.


Nesse sentido, Paulo Mendes foi quem alertou no encontro regional que o Triângulo Mineiro, mesmo com sua importância agrícola, não tem um radar meteorológico. Segundo ele, o equipamento custaria entre R$ 4 e 5 milhões, mas se pagaria com a melhora das previsões climáticas.


“No Triângulo Mineiro, nós não temos como produzir dados sem um material como o radar meteorológico. Estações meteorológicas, nós temos pouquíssimas. No Pontal do Triângulo Mineiro, temos em torno de quatro estações meteorológicas para a região inteira”, complementou Rildo Costa.


Ferramentas para crédito de carbono são defendidas


A tecnologia foi apontada no encontro como um caminho para viabilizar o financiamento de políticas ambientais. O professor do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro, Fernando Caixeta Lisboa, disse no encontro do seminário que o Brasil e a região do Triângulo têm um potencial enorme e inexplorado de negociação de créditos de carbono.


Segundo Lisboa, o Brasil emitiu, em 2022, 169,4 toneladas de dióxido de carbono, sendo que apenas Uberlândia emitiu 2,5 toneladas. O País e a região, ressaltou, já implantaram diversas iniciativas para redução dessas emissões, mas quase não há políticas que viabilizem a remuneração desse serviço ambiental.


Ele apontou o município de Santa Vitória, no Pontal do Triângulo, como um dos pioneiros na implantação de um programa de pagamento por serviços ambientais, em 2023. Importante, a ampliação de experiências desse tipo depende, contudo, da conscientização dos agentes econômicos e também do desenvolvimento de políticas de tecnologia, conforme ainda ressaltou o professor.


Ilustrando a relevância da tecnologia, ele frisou que uma das novidades em desenvolvimento nesse campo são algoritmos de inteligência artificial para fazer o inventário das emissões de gases do efeito estufa, uma ferramenta útil para o ingresso no mercado de créditos de carbono.


Seminário busca soluções de longo prazo


O seminário técnico foi lançado pela Assembleia Legislativa em 14 de março, antes, portanto, da tragédia do Rio Grande do Sul, afetado em maio por enchente de grandes proporções. O ocorrido veio reforçar a urgência da discussão assumida pelo Parlamento Mineiro em parceria com mais de 60 instituições, órgãos públicos e representantes da sociedade civil, envolvidos na busca de soluções estruturantes e de longo prazo para a convivência com os fenômenos climáticos extremos.


Ao final da empreitada, os deputados estaduais terão em mãos um relatório contendo diretrizes e sugestões para nortear a elaboração de uma agenda para a atuação do Legislativo. As propostas apresentadas pelos participantes poderão se desdobrar, por exemplo, em pedidos de providências para autoridades, projetos de lei para aprimorar políticas públicas e emendas ao Orçamento do Estado e ao Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG).