Dez militares foram presos nesta segunda-feira (08) por envolvimento na morte de um músico na Zona Norte do Rio de Janeiro. O carro da vítima, onde também estava o filho do músico, de 7 anos, e outros dois familiares, foi fuzilado por oitenta tiros.
Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, que trabalhava como segurança de uma creche e, nas horas vagas, tocava em um grupo de pagode, dirigia o veículo alvejado pelos militares. O motorista morreu na hora, na frente do filho mais novo, da esposa e do sogro, que também foi baleado, mas não corre risco de vida.
A família voltava de um chá de bebê quando os oficiais abriram fogo contra o carro onde estavam. O exército chegou a afirmar que as vítimas a bordo eram dois criminosos que, por sua vez, atiraram contra os militares.
Mais tarde, porém, em um novo comunicado, o Comando Militar do Leste informou que, em virtude de inconsistências identificadas entre os fatos inicialmente reportados, foi determinado o afastamento imediato dos militares envolvidos.
Os oficiais foram, então, encaminhados à Delegacia Policial Judiciária Militar para prestar depoimentos.
Um morador de rua, identificado como Luciano Macedo, também foi atingido e socorrido.
Com medo de manipulação da cena do crime, parentes das vítimas impediram que os próprios militares fizessem a perícia, a qual foi realizada pela polícia civil.
O delegado da região chegou a marcar uma coletiva de imprensa para falar a respeito do caso, porém, a mesma foi cancelada, já que a investigação ficou a cardo dos militares.
A mudança se deve a uma lei sancionada pelo então presidente Michel Temer, em 2017, que estabelece que crimes dolosos contra a vida de civis cometidos por integrantes das Forças Armadas, enquanto estiverem em serviço, devem ser julgados pela Justiça Militar.
Na apuração do caso, doze militares foram ouvidos e, destes, dez foram presos em flagrante nesta segunda-feira (08).
Em nota, o Exército afirmou que repudia veementemente excessos ou abusos das tropas. O crime contra Evaldo e sua família, porém, é a segunda execução de um civil em menos de três dias.
Na madrugada da última sexta-feira (05), um jovem que estava na garupa de uma moto foi morto pelas costas com um tiro de fuzil. O adolescente que pilotava o veículo também ficou ferido. Os jovens haviam tentado furar uma blitz do Exército, na Zona Oeste da cidade.
A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro também exigiu explicações sobre a atuação dos militares.
“A gente tem um problema no Rio de Janeiro de hoje, que é a principal proposta da Segurança Pública: o principal critério é que atire; atire sem perguntar. A gente está vivendo sob uma lógica do abate. Então, essas Forças se sentem legitimadas a atirar e matar”, declarou a Presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ, Renata Souza.
SBT